O exercício físico e o extrato de flor de castanheiro podem ser ferramentas para a prevenção do cancro da próstata, concluiu um estudo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) feito em animais e divulgado hoje.
Elisabete Gonçalves, do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), da UTAD, em Vila Real, quis avaliar a influência do estilo de vida no cancro da próstata, estudando, por um lado, o consumo do extrato de flor de castanheiro e, por outro, o efeito do exercício físico.
A investigação foi feita com ratos, o protocolo durou 50 semanas e, segundo salientou, o próximo passo é “fazer a traslação para o homem”.
A investigadora, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Mundial do Combate ao Cancro da Próstata, que se assinala no domingo, explicou que, na investigação, foram utilizados ratos machos com diferentes variáveis: saudáveis, com cancro induzido e submetidos a exercício aeróbio em passadeira.
Estes ratos faziam exercício aproximadamente durante uma hora por dia e cinco dias por semana, com a intensidade a ser adaptada à capacidade dos animais.
“Este tipo de treino a que os animais foram expostos representa uma corrida de intensidade moderada para um humano”, afirmou, salientando que se pretendia, precisamente, perceber os efeitos do exercício físico prolongado na prevenção do cancro da próstata.
Em simultâneo, outros animais com cancro beberam um extrato aquoso de flor de castanheiro, uma linha de investigação realizada em parceria com o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e as professoras Isabel Ferreira e Lillian Barros.
“Em Bragança já tinham feito estudos in vitro, com linhas celulares de cancro e já tinham percebido que esse extrato de flor de castanheiro tinha propriedades antitumorais e antioxidantes”, referiu Elisabete Gonçalves.
A investigadora realçou os “bons resultados” obtidos no estudo.
“Na parte do exercício físico, percebemos que aumentou as células do sistema imunitário que têm uma ação antitumoral, quer no sangue quer olhando só para a próstata dos ratos, o que confirma os efeitos benéficos do exercício na modelação do sistema imunitário”, explicou.
Relativamente ao extrato aquoso de flor de castanheiro destacou que se verificou “uma redução da inflamação da próstata”. A inflamação está associada ao desenvolvimento de tumores.
“Os animais que foram expostos à flor de castanheiro tinham muito menos inflamação local no tecido da próstata do que os animais que não foram expostos”, concluiu.
A investigadora realçou as mais-valias de uma prevenção “através de soluções não farmacológicas” e de mudanças no estilo de vida, ou seja, através da prática de exercício físico ou da inclusão destes compostos naturais na dieta.
Estes são resultados preliminares e pré-clínicos e, segundo frisou, está-se a trabalhar no sentido de poder extrapolar os resultados para o homem.
Foi um projeto multidisciplinar, em que a professora Paula Oliveira foi a investigadora principal e que envolveu outros investigadores da UTAD (Fernanda Seixas) e das universidades do Porto ( Daniel Gonçalves e José Alberto Duarte) e de Aveiro (Rita Ferreira e Margarida Fardilha).
O trabalho teve como base o projeto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) “Exercício físico para a prevenção do cancro da próstata – estudo das bases moleculares subjacentes”.
Noutra linha de investigação foi realizado um estudo preliminar sobre o consumo de castanha, que durou 35 dias e em que o alvo de estudo foram murganhos (ratinhos).
Elisabete Gonçalves disse que os resultados foram “bastante interessantes” e sugeriram que a castanha pode contribuir para regular a deposição do tecido adiposo.
“Houve uma redução da gordura visceral, que é a gordura à volta dos órgãos, principalmente abdominal, e também houve uma redução do colesterol total”, referiu, acrescentando que também não foram observados efeitos tóxicos.