Falta de médicos de família só deve ficar resolvida em 2016 748

Falta de médicos de família só deve ficar resolvida em 2016

08 de Agosto de 2014

A situação está hoje pior do que em 2012, quando havia mais de 1,6 milhões de pessoas sem médico de família em Portugal, porque entretanto muitos profissionais saíram para a aposentação, afirmou o vice-presidente da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, Rui Nogueira.

O responsável põe mesmo em causa «a seriedade» da auditoria do Tribunal de Contas (TC) e que faz uma série de recomendações sobre a reforma dos cuidados de saúde primários. Rui Nogueira prevê que só em 2016 será possível resolver o problema da falta de médicos de família no país.

«É um bocado triste que [os juízes] do Tribunal de Contas se baseiem em dados desatualizados e avancem com confusões e interpretações erradas», disse ao “Público” Rui Nogueira, para quem é «um absurdo» sugerir que, se as consultas nos centros de saúde demorassem 15 minutos, em média, em vez de 21 minutos (como acontecia em 2012), seria possível dar médico de família a cerca de 2,5 milhões de portugueses.

No relatório do TC, que elenca várias hipóteses de trabalho para combater o problema da falta de médicos de família em Portugal, os juízes conselheiros fazem contas e concluem que a diminuição do tempo médio da consulta para apenas 15 minutos permitiria realizar mais 10 milhões de consultas por ano. «Só quem não sabe o que é fazer consultas é que pode sugerir isso», criticou Rui Nogueira, que lembra que, além de serem muitos os doentes idosos nos centros de saúde, «cada vez mais há utentes informados e isso consome tempo». Por que é que os juízes do TC não se preocuparam com o tempo que demora contratar novos médicos, perguntou.

Rui Nogueira criticou ainda o facto de, na auditoria, os juízes terem destacado o facto de os médicos de família das Unidades de Saúde Familiar (USF) de modelo B poderem auferir cerca de 10 mil euros por mês, no máximo (com os suplementos e prémios de desempenho), enquanto os seus colegas das USF modelo A e dos centros de saúde tradicionais ganham menos cerca de 80%. «É especulativo, [na prática] ninguém ganha isso», garantiu.

O presidente do Colégio de Medicina Geral e Familiar da Ordem dos Médicos, José Silva Henriques, manifestou também o seu completo desacordo com as conclusões da auditoria. «Que eu saiba não são médicos e, portanto, não fazem a mínima ideia do que é exercer medicina familiar no terreno», disse à “TSF”. Os juízes do organismo tutelado por Guilherme de Oliveira Martins têm uma visão «puramente economicista e miserabilista» do setor da saúde, considerou.