No Reino Unido, em termos de modelo de remuneração das farmácias, já há alguns anos que se fez «a transição da margem do receituário para os serviços», declarou Silvana Martins, Pharmacist Branch Manager em Norwich, durante a FARMA SESSIONS “FARMÁCIA 2021: O Dia Seguinte”, um webinar, que aconteceu ontem, promovido pela FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO e que contou com um total de 702 participantes.
A farmacêutica explicou, neste sentido, que existem vários tipos de serviços disponibilizados pelas farmácias britânicas: «os essenciais (como a dispensa do receituário, otimização da medicação, promoção do estilo de vida saudável…) providenciados nacionalmente, e de caráter obrigatório, acordados pelo NHS (sistema nacional de saúde britânico); os avançados (vacinação contra a gripe, apoio ao novo medicamento e consulta farmacêutica, etc.) providenciados nacionalmente e, igualmente, comissionados pelo NHS, mas de caráter opcional; os locais, comissionados por entidades de saúde locais, quando existem necessidades públicas específicas; e os serviços privados (apoio oncológico, consulta do viajante…), pagos pelos utentes e que podem variar entre farmácias consoante o modelo de negócio implementado».
O NHS atribui, de acordo com Silvana Martins quase três mil milhões de libras, por ano, para a prestação de serviços. Não obstante, «temos de demonstrar a sua qualidade» para que continuem a ser remunerados. Além disso, «têm havido cortes orçamentais, o que levou à necessidade de encontrar outras fontes como os serviços privados».
Evolução favorável
Em Portugal, como salientou Cláudia Furtado, do Infarmed, «também tem havido uma evolução dos serviços prestados pelas farmácias», havendo já evidência de que «os farmacêuticos podem complementar os serviços prestados no Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente ao nível local».
Duarte Santos, da Associação Nacional das Farmácias (ANF), concorda: «A situação tem evoluído positivamente» e, para o farmacêutico, «hoje, já estamos a colher frutos, por exemplo, o alargamento da abrangência da vacinação».
Por isso, do seu ponto de vista, «a rede portuguesa de farmácias em nada fica a dever à do Reino Unido. Também somos um exemplo em termos de infraestrutura técnica e do rácio de farmacêuticos por farmácia, que é superior ao britânico».
Além disso, ressalvou a relevância do espaço farmácia. «Se no Reino Unido já há farmacêuticos a desempenharem a sua atividade em centros de saúde, em Portugal, há locais onde há farmácias, mas não há centros de saúde», argumentou o farmacêutico. E, assim sendo, «há cuidados que podem ser prestados no espaço farmácia, como o serviço de nutrição. Mas também poderemos integrar fisioterapeutas e enfermeiros porque somos uma rede muito capilar e bem capacitada», justificou.
Então qual é o problema?
O modelo de remuneração existente em Portugal, através das margens, também «implica intervenções, como, por exemplo, a avaliação de sintomas», declarou Ema Paulino, da Ordem dos Farmacêuticos. O problema é que «desde há 15 anos que tem havido uma diminuição do financiamento das farmácias através deste modelo e que não foi canalizado para serviços adicionais». Por outras palavras, «o Ministério da Saúde não está a pagar uma transação logística, pois reconhece que os medicamentos devem ser dispensados sob supervisão farmacêutica. Mas o modelo de remuneração apesar de ter isto em conta, está, contudo, muito associado ao preço, que se tem degradado», especificou a farmacêutica, alegando que «se torna insustentável a prestação de determinados serviços».
Daí que, para Ema Paulino, falte dar o passo seguinte, ou seja, «comprovar a poupança gerada, pelos serviços prestados nas farmácias, para o SNS. É o que está em causa e que gostaríamos que acontecesse».
O dia seguinte
Ema Paulino acredita que, por tudo o que foi exposto, «seja inevitável o modelo de remuneração mudar: precisamos de um novo modelo de contratualização com as farmácias». E, por isso, argumentou que «o “dia seguinte” tem de passar pelo nosso maior ativo, o farmacêutico», ou seja, «tem de haver um modelo de contratualização que permita, por exemplo, às farmácias investirem mais nos farmacêuticos e haver uma maior valorização dos medicamentos sujeitos a receita médica».
No entanto, tem ainda de haver uma alteração da mentalidade: quando o utente entrega uma receita, não está só a pedir medicamentos, mas, essencialmente, «que o ajudemos a controlar, por exemplo, a hipertensão e a diabetes, daí que, além de dispensar os medicamentos, é importante providenciarmos um serviço, como o de apoio à toma de um novo medicamento», concluiu a farmacêutica.
Esta edição FARMA SESSIONS foi uma iniciativa da revista FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO, com o patrocínio FRESENIUS KABI e contou com o apoio da OCP, Plural+Udifar, Farmácias Holon, Rede Claro, Simposium Digital Healthcare, Mais Farmácia e Nossa Farmácia. As revistas FARMÁCIA CLÍNICA e MARKETING FARMACÊUTICO, o Portal NETFARMA e a FARMANEWS foram os media partners desta conferência.