Farmacêutico Hospitalar: que futuro? 1621

No dia 17 de junho a Ordem dos Farmacêuticos, em conjunto com a Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares e a Nova SBE, apresentou o Estudo ‘‘Valorização do Desempenho do Farmacêutico Hospitalar’’ que pretendia gerar evidência relativamente à importância do farmacêutico hospitalar e de toda a sua equipa no âmbito dos cuidados de saúde, caracterizando o seu papel e impacto da sua intervenção em matéria de resultados em saúde.

Numa altura em que a despesa com medicamentos tem vindo a aumentar e face à necessidade de discutir, num cenário pós-pandêmico, o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS), é fulcral que os órgãos de governo reconheçam, ainda mais, aqueles que são os contributos que o Farmacêutico consegue dar quando se trata da prestação de cuidados de saúde.

Das diversas conclusões que foram retiradas do estudo que contou com a auscultação a médicos que trabalham, no seu dia-a-dia, com farmacêuticos hospitalares, destacaria principalmente as mutações que o paradigma do farmacêutico em âmbito hospitalar tem sofrido nos últimos anos.

O Farmacêutico enquanto profissional que conta com uma extensa formação técnico-científica na área do medicamento, a qual não é oferecida em mais nenhum Ciclo de Estudos em Portugal e no Mundo além do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (MICF), compila em si as ferramentas que permitem ao farmacêutico garantir a qualidade, segurança e eficácia do medicamento. No entanto, a era em que o Farmacêutico pensava apenas no medicamento tem vindo a ser ultrapassada. Com base na premissa ‘‘Ao doente certo, o medicamento certo’’ é facto que as responsabilidades deste profissional têm deixado de estar centradas no medicamento, passando a estar cada vez mais focadas no doente.

Para que tal seja potenciado, requer-se uma adaptação do atual modo de funcionamento do SNS que deverá promover e incentivar a qualidade assistencial do Farmacêutico que trará, sem qualquer sombra de dúvida, qualidade nos serviços prestados pelo SNS enquanto principal prestador de cuidados de saúde em Portugal.

Atualmente, o que não falta é evidência científica que comprove como a intervenção do farmacêutico através dos variados serviços como a revisão, validação e reconciliação da terapêutica, a participação nas visitas médicas e a farmacovigilância, não só contribui para menores erros associados à medicação como também conduz a resultados palpáveis no que a adesão à terapêutica diz respeito, aumentando assim os ganhos em saúde.

Se há ensinamento que a pandemia por COVID-19 nos trouxe, é a necessidade de baseamos as decisões, principalmente na área da saúde, em evidência científica. Sendo reconhecido o papel verdadeiramente significativo e incomparável do Farmacêutico nos cuidados hospitalares, esperam-se agora medidas e atos concretos por parte dos decisores políticos que tenham em vista a valorização da intervenção clínica dos Farmacêuticos Hospitalares, indo ao encontro daquele que é o objetivo de todo e qualquer profissional de saúde:  a prestação dos melhores cuidados de saúde aos Portugueses.

Carolina Simão
Presidente da Direção APEF – Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia