À medida que aumenta a exigência por cuidados de saúde e em que os regimes de prescrição de medicamentos se tornam mais complexos e especializados, o papel de Farmacêutico Prescritor Independente (“Pharmacist Independent Prescriber”) assume nova importância na prestação de cuidado clínico de qualidade.
O Farmacêutico Prescritor Independente pode prescrever autonomamente para qualquer condição médica dentro da sua competência. Atualmente é necessário tirar um curso universitário aprovado pelo GPhC (a entidade equivalente à nossa Ordem dos Farmacêuticos e INFARMED) com duração mínima de seis meses, que é equiparável a um mestrado; este curso só pode ser tirado após uma prática profissional mínima de 2 anos. Existe uma proposta em cima da mesa para que, a partir de 2026, todos os farmacêuticos possam prescrever a partir do momento que se inscrevem na Ordem; numa nota pessoal, concordo com esta medida somente se for abrangido durante o ano de estágio uma prática no centro de saúde durante um período mínimo de três meses em que o farmacêutico possa adquirir certas competências abrangidas no curso de prescritor. Para além do desenvolvimento das competências clínicas, de diagnóstico e de prescrição, o curso cobre os domínios de cuidado centrado no utente, profissionalismo, conhecimento e competência profissional, e colaboração.
Prescrição independente por farmacêuticos será testada em toda a Inglaterra em 2023
Como prescritor, o farmacêutico assume responsabilidade pela avaliação clínica do doente, estabelecendo um diagnóstico e a gestão clínica necessária, assim como é responsável pela prescrição apropriada de medicamentos. A farmácia e o farmacêutico têm de demonstrar que cumprem com todos os requisitos legais e clínicos relacionados com a consulta e prescrição de medicação.
Apesar de já existirem sistemas de prescrição farmacêutica noutras partes do Reino Unido, em 2023 vai ser lançado um projeto-piloto 100% financiado pelo NHS (SNS britânico), em que o utente terá uma consulta com o farmacêutico prescritor na farmácia (ou por videochamada), onde o farmacêutico avalia, diagnostica e possivelmente prescreve o tratamento ou exames/análises necessários. Este piloto tem como principais objetivos: um serviço conveniente de fornecimento de medicamentos, o cuidado de patologias agudas e pontuais, a prevenção de doença grave e o alívio dos cuidados primários e do NHS, libertando tempo aos médicos para se poderem focar em patologias mais complexas.
O NHS, tal como o SNS, tem problemas, reconhece o papel dos farmacêuticos e a importância de nos incluir nas equipas multidisciplinares. Os serviços nacionais de saúde devem adaptar-se às exigências de uma população cada vez mais envelhecida e com patologias crónicas, aos aumentos das restrições financeiras e aos desafios nos recursos humanos (com as dificuldades em contratar e manter profissionais de saúde).
“Delegação” e “Integração” devem fazer parte do vocabulário quando se fazem políticas na Saúde, e é importante apostar nos farmacêuticos como parte integrante da solução de um problema que se arrasta há demasiado tempo.
Silvana Ruas, Farmacêutica