O bastonário dos Farmacêuticos pediu a intervenção do Infarmed para garantir o cumprimento de boas práticas na preparação de medicamentos no IPO de Lisboa, depois de ter recebido pedidos de escusa de todos os farmacêuticos da instituição.
Em declarações às Lusa, Helder Mota Filipe explicou que a Ordem dos Farmacêuticos recebeu pedidos de escusa de todos os 22 farmacêuticos do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa Francisco Gentil, manifestando preocupação com os motivos apontados por aqueles profissionais e com a própria segurança dos farmacêuticos.
Alguns casos apontados “são claramente atropelos à boa prática” e, “por essa razão, temos obrigações de enviar para a autoridade que é responsável pelo funcionamento da farmácia hospitalar, que é o Infarmed”, afirmou o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF).
Helder Mota Filipe lembrou que os profissionais denunciaram “situações muito complicadas do ponto de vista da falta de condições para a preparação de quimioterapia”.
“Põe em causa não só a própria qualidade e a capacidade de produção, como põe em risco os próprios farmacêuticos que os preparam [aos medicamentos]”, acrescentou.
Manifestou igualmente preocupação com o facto de os pedidos de escusa virem de todos os 22 farmacêuticos da instituição: “Quando são todos é sinal de que realmente não há dúvidas”.
Nos pedidos de escusa apresentados, os farmacêuticos apontam a falta de manutenção eficaz de infraestruturas e equipamentos da Unidade de Preparação de Estéreis (UPE), sublinhando que esta situação conduziu a uma “deterioração critica” que pode ”impactar na segurança dos tratamentos preparados” bem como dos profissionais envolvidos.
Aludindo igualmente à falta de meios, dizem que o aumento na exigência do trabalho diário não se traduziu num aumento proporcional do número de farmacêuticos.
Na carta enviada ao Infarmed, o bastonário lembra a demissão da diretora dos serviços farmacêuticos do IPO de Lisboa, destacando que a profissional de saúde considerou que não estão a ser cumpridas as boas práticas de preparação de medicamentos, de acordo com as normas do Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.
Questionado sobre se esta situação pode colocar em causa a segurança dos doentes, o bastonário respondeu: “Acho que não, porque os farmacêuticos, e principalmente os de IPO, são altamente especializados e preparados e, portanto, não deixam correr esse risco”.
“O que faz é com que a quantidade de medicamentos preparada tenha que diminuir para garantir a segurança. Isto também não combina com o aumento de produção que tem vindo a ser pedido aos próprios serviços farmacêuticos. (…) Entrou-se numa situação de rutura”, acrescentou, lembrando que já pediu uma reunião e visita urgente ao IPO de Lisboa para verificar ‘in loco’ as situações apontadas pelos profissionais.
Os pedidos de escusa apresentados pelos 22 farmacêuticos do IPO de Lisboa surgem depois da demissão, conhecida na passada sexta-feira, da diretora dos serviços farmacêuticos da instituição, Rute Varela, alegando falta de meios.
Na altura, em declarações à Lusa, a presidente do Conselho de Administração, Eva Falcão, disse discordar de alguns dos “desabafos” apresentados pela responsável pelos serviços farmacêuticos, sublinhando que tem sido feito investimento neste serviço.
Sobre os recursos humanos, lembrou que em dezembro de 2021 o IPO de Lisboa tinha 22 farmacêuticos, um ano depois 18 e em agosto deste ano eram 25.
Eva Falcão rejeitou que haja qualquer risco de segurança para os doentes, reconheceu que o Conselho de Administração gostaria de ter mais farmacêuticos no serviço e lembrou que esta “também é uma área onde há escassez de profissionais”: “Tudo temos feito para colmatar as necessidades e apostar nos serviços farmacêuticos e também na modernização dos serviços”.