Cerca de 50 farmacêuticos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) protestaram na passada segunda-feira à porta do Palácio da Bolsa, no Porto, contra a falta de vontade do Governo em debater a sua situação profissional.
Aproveitando a entrega dos “SNS Awards 2023”, Sindicato dos Farmacêuticos e Movimento Farmacêuticos em Luta, concentraram-se junto a palácio a aguardar o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que não compareceu na cerimónia.
Em declarações à Lusa, o sindicalista Henrique Reguengo, afirmou que os farmacêuticos, no atual contexto de progressão na carreira “são o elo que parece que não existe”.
“A verdade é que já vai mais de um ano em que tivemos de enveredar por uma via que nunca foi a nossa, o recurso à greve e a manifestações, quando sempre tentámos ir pelo diálogo, pela lógica e pela inteligência. Mesmo assim não há qualquer abertura da parte do Governo para iniciar a resolução dos problemas da área farmacêutica no Serviço Nacional de Saúde. Há mais de um ano que é assim”, lamentou o dirigente sindical.
Desafiado a esclarecer por que não há reuniões há tanto tempo, Henrique Reguengo explicou que “o ministério [da Saúde] recusa-se a falar de qualquer problema que envolva o Ministério das Finanças e a administração pública”.
“O que quer dizer que do ponto de vista prático é como se não estivéssemos a falar”, sintetizou, lamentando que “sistematicamente, tudo o que tem que ver com a área farmacêutica seja adiada para as calendas gregas”.
Explicando que ou farmacêuticos estão em três áreas do SNS: farmácia hospitalar, análises clínicas e genética humana, o sindicalista apontou depois aos “perigos” que a interrupção da sua atividade implica no quotidiano dos hospitais perguntando “qual o serviço a nível hospitalar que não utiliza medicamentos, análises clínicas ou análises genéticas”.
“Nós estamos na base, nós fornecemos matéria-prima com a qual a classe médica e a enfermagem trabalham. Sem nós esses profissionais não vão ter as ferramentas para trabalhar. Somos a bola de futebol num jogo e, tal como acontece em campo, somos nós que levamos os pontapés”, disse o dirigente do sindicato.
Para além da “parte remuneratória e da falta de pessoal nas instituições”, para Henrique Reguengo “aquilo que mais magoa e revolta traz às pessoas é a falta de respeito por parte do Governo”, enfatizando que os “profissionais passaram nove anos a formarem-se (…) e é muito tempo e muito esforço para depois serem tratados como uma bola de futebol”.
Da parte do movimento, Aida Batista explicou a manifestação pela vontade de “demonstrar a injustiça e a iniquidade com que os farmacêuticos estão a ser tratados por comparação com outros grupos do SNS”.
“Quando se fala do SNS fala-se em médicos e em enfermeiros e sabemos que o ministro se tem reunido com os médicos e, aos enfermeiros, já lhes deu bastante do que eles queriam nas suas reivindicações”, assinalou a farmacêutica sobre um contexto em que se “cria a ideia de que SNS subsiste só com médicos e enfermeiros”.
Ostentando cartazes onde se lia “Prémio Resiliência: 24 anos sem aumento salarial” e “Farmacêuticos do SNS em luta! Pela saúde de todos”, a cerca de meia centena de manifestantes esperou quase duas horas pela chegada do ministro à porta do palácio.
“Com tantos problemas estruturais como pode o SNS atribuir aos profissionais, individualmente ou às suas equipas, prémios de excelência?” e “como pode premiar a excelência quando têm serviços abaixo do limiar do aceitável” foram algumas das perguntas deixadas pelo grupo à porta do evento.
À chegada ao local, o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, ouviu os manifestantes sem fazer comentários, acabando estes por desmobilizar pouco depois das 21:00.