Os farmacêuticos hospitalares voltam esta terça-feira à greve, depois da primeira paralisação de sempre em outubro, mostrando-se surpreendidos por não terem recebido qualquer proposta do Governo após a reunião com a anterior equipa da Saúde, no verão.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF), Henrique Reguengo, disse que estes profissionais estão descontentes e surpreendidos pelo “silêncio do Governo”.
“É absolutamente surpreendente o que está a acontecer”, disse o responsável, sublinhando que, na primeira greve de sempre, em outubro, o sindicato registou 93% de adesão e que, agora, com a falta de contacto do Governo, estes números podem aumentar.
Diz que, uma vez que este segundo período de greve já estava anunciado em outubro, “dava mais do que tempo para o Governo mostrar que estava preocupado com a situação e que tencionava fazer alguma coisa”, sobretudo “quando está a ser discutido no parlamento o Orçamento do Estado para o próximo ano”.
“A palavra farmacêutico, como profissional, não aparece uma única vez [no texto do orçamento]. Vai às medidas do governo e estão lá as negociações com médicos, com enfermeiros, criações de novas carreiras e a palavra farmacêutico não aparece”, lamentou Henrique Reguengo, lembrando que a anterior equipa da Saúde tinha reconhecido, no verão, os problemas destes profissionais e que era preciso resolver.
Diz não compreender o que classifica como “falta de abertura para negociar” com os farmacêuticos por parte do Governo, manifestando, contudo, esperança de que o ministro esteja a fazer “as diligências necessárias” para poder apresentar uma proposta a estes profissionais.
Os farmacêuticos dos serviços públicos de saúde exigem a revisão das grelhas salariais, que datam de 1999, e a contagem integral do tempo de serviço para progressão na carreira. A greve abrange todos os serviços de saúde dependentes dos ministérios da Saúde, Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e Defesa Nacional, assim como nos Açores e na Madeira.
O sindicato, além da valorização profissional e da contagem integral do tempo de serviço no SNS para efeitos de promoção e progressão na careira, exige também a vinculação efetiva dos farmacêuticos a exercer no serviço público com contratos precários e a adequação do número de profissionais às reais necessidades e complexidade das atividades desenvolvidas.
No pré-aviso de greve, o sindicato pede igualmente o reconhecimento e homologação, por parte do Ministério da Saúde/Administração Central do Sistema de Saúde, dos títulos de especialista atribuídos pela Ordem dos Farmacêuticos, assim como a definição e regulamentação “de processo especial e transitório para regularização do acesso à especialidade/residência farmacêutica por parte dos farmacêuticos contratados após 01 de março de 2020”.
Henrique Reguengo lembra ainda os 25% de carência destes profissionais no SNS – valores identificados num estudo da Universidade Nova – e insiste: “Nós não podemos adiar consultas. Cheguem-nos 10 utentes, cheguem-nos 100, nós temos de, com os farmacêuticos que estão nessa altura, suprir as necessidades”.
“É óbvio que isto faz com que as pessoas estejam continuamente nos serviços sob pressão. E isto é mau para os farmacêuticos, mas também mau para os utentes, porque é indutor de erros”, insiste o responsável, acrescentando: “E nós tanto fazemos coisas mais simples, como fazemos quimioterapia”.