Farmacêuticos na Política: Entrevista a Sofia Machado Fernandes 455

Na rubrica Farmacêuticos na Política, apresentamos Sofia Machado Fernandes, vereadora, já no seu terceiro mandato, da Câmara Municipal de Famalicão.

Em entrevista ao NETFARMA, a farmacêutica revela que trocou, há 11 anos, a farmácia comunitário pelo cargo político e garante que se voltasse atrás “iria aceitar este desafio novamente”, pois “gosto muito de saber que estou a contribuir para que Famalicão e os famalicenses possam ter melhor condições de vida e que se orgulhem de viver em Famalicão e que se orgulhem dos seus decisores políticos”.

E como os seus amigos/colegas dizem: “Perdemos uma boa farmacêutica, mas ganhamos uma excelente vereadora”.

 

 

 

Nome: Sofia Machado Fernandes

Cargo: Vereadora a tempo inteiro da Câmara Municipal de Famalicão

Filiação partidária: Partido Social Democrata (PSD)

Número de anos no cargo político: Está no terceiro mandato. Em outubro faz 11 anos que assumiu este cargo político

 

 

– O que a levou a enveredar por uma carreira na Política?

Na verdade, já pertencia a estruturas partidárias locais desde os meus 20 anos. Pelo que enveredar pela carreira na política aconteceu naturalmente. Após vários anos a desempenhar as minhas funções como farmacêutica, em farmácia comunitária, surgiu o convite da estrutura local do PSD para integrar a lista à vereação nas eleições autárquicas de 2013, ao qual acedi após uma breve reflexão.

 

– Quais têm sido os desafios?

Os desafios têm sido enormes, mas muito gratificantes enquanto ser humano. Estar ao serviço dos famalicenses em áreas tão abrangentes como a Saúde; a Interculturalidade e Integração; a Igualdade; a Família, a Segurança Rodoviária e ainda os Transportes e a Mobilidade tem sido uma enorme aprendizagem.

Lidar com os problemas reais das pessoas desde o mais simples até ao mais complexo, é muito desafiante. Conseguir aprender com alguma celeridade domínios que desconhecemos quando aqui chegamos, é exigente e absorve-nos muito, mas como o faço com muito gosto, acabo por me dedicar a 100% sem sequer me aperceber disso!

Estar no centro das decisões sobre um melhor futuro para cerca de 135.000 habitantes é uma enorme responsabilidade que por vezes nos retira o sono, contudo, em compensação, muitas vezes arranca-nos enormes sorrisos de felicidade.

 

– Para o seu município, quais as linhas orientadoras, em termos políticos, que defende?

Na minha opinião devemos ter projetos e programas abrangentes, ou seja, nenhuma área deverá ser esquecida, mas, devido à minha natureza académica, tenho uma visão muito mais própria na questão da formação, da informação, da prevenção e acima de tudo na questão da literacia da nossa comunidade. A literacia em qualquer área é fundamental, se queremos ter uma comunidade mais saudável e feliz, temos que a capacitar para que seja capaz de tomar as melhores decisões. Devemos, por isso, ter programas que cheguem a todos e para todos, consoante as caraterísticas próprias de cada comunidade.

Os eventos e programas culturais são também necessários para que a nossa identidade enquanto sociedade permaneça no tempo.

 

– Concilia a profissão de farmacêutica com o cargo político?

Não. Desde o momento que fui eleita para um primeiro mandato, nunca mais exerci a profissão.

 

– Que feedback costuma receber de colegas farmacêuticos pelo facto de ter uma ocupação política?

Há 11 anos, acho que foi realmente uma admiração, pois viram-me sair da minha zona de conforto e abraçar esta causa pública. Hoje, passado todo este tempo, sentem que eu gosto bastante daquilo que faço, que acredito muito nas minhas convicções e que nunca abdicarei delas.

Uma das grandes alterações nos nossos convívios, é que as nossas conversas já não se restringem à profissão farmacêutica, pois também me ouvem falar de um dia a dia bastante diferente do deles. Daí que chegam a comentar: “perdemos uma boa farmacêutica, mas ganhamos uma excelente vereadora”.

 

– Do seu ponto de vista, de que modo é que o facto de ser licenciada em Ciências Farmacêuticas faz a diferença no desempenho do cargo político?

Confesso que não acho que faça diferença, pois o papel que desempenho em nada se equipara à minha formação e profissão. Neste meu cargo, enquanto vereadora, são muitas as vezes em que não existem horários, não existem fins de semana e, portanto, necessito de ter total disponibilidade, necessito saber ouvir, necessito ter muito poder de encaixe e acima de tudo seriedade naquilo que faço. Tenho a sorte de estar rodeada de uma excelente equipa, que fui construindo desde o primeiro momento, à qual agradeço pelo facto de juntos conseguirmos superar-nos todos os dias.

 

– Em que áreas da sua atuação política o facto de ser farmacêutica se revelou efetivamente uma mais-valia?

Essencialmente, na minha visão abrangente sobre a população, a proximidade aos nossos cidadãos, a sensibilidade em ouvi-los e a procura de implementação de políticas públicas que sejam direcionadas para a promoção da saúde.

Uma das áreas que temos vindo a trabalhar afincadamente é a promoção da saúde mental das nossas crianças e jovens (programa BE-OK). Executamos programas de apoio financeiro à aquisição de medicamentos pelas pessoas com carência financeira, programas em parceria para o apoio psicológico às pessoas com doença oncológica e suas famílias; sessões mensais de literacia em saúde para a comunidade em geral (HAJA-SAÚDE), parcerias com as farmácias e outros parceiros da saúde, na organização do “Mercado da Saúde”, e também tenho muita proximidade à Escola Superior de Saúde do Vale do Ave onde partilhamos vários projetos e atividades, etc.

 

– Que balanço faz desta sua experiência de “farmacêutica política”? Se pudesse voltar atrás, enveredava novamente pela política?

Faço um balanço muito positivo enquanto ser humano e enquanto política. Se voltasse atrás não tenho a mínima dúvida de que iria aceitar este desafio novamente. Gosto muito daquilo que faço, sinto-me feliz em servir as pessoas, em poder ajudar, gosto muito de saber que estou a contribuir para que Famalicão e os famalicenses possam ter melhor condições de vida e que se orgulhem de viver em Famalicão e que se orgulhem dos seus decisores políticos.

 

– Quais são as suas expectativas futuras em termos profissionais?

Bom…neste momento estou muito concentrada em terminar este último ano do terceiro mandato, pois em setembro/outubro de 2025, teremos eleições autárquicas. Gostaria muito de continuar na vida política ativa, mas naturalmente que só permanecerei se sentir que ainda tenho muito para dar a esta causa.

 

– Acha importante haver mais farmacêuticos com cargos políticos?

Sim, acho. À semelhança de outras profissões é perfeitamente aceitável e são bem-vindos no serviço público, aliás temos agora um excelente exemplo, a senhora Ministra da Saúde, Dra. Ana Paula Martins, que é farmacêutica. Acho que ao longo dos anos foi-se criando uma imagem de que os advogados tinham mais perfil e uma entrada quase direta em cargos políticos, mas a realidade foi mudando e reconheço nos farmacêuticos a mesma capacidade para abraçar a política como os de outra profissão qualquer.

 

– Olhando para o País, especificamente para a Saúde, quais as medidas que acha que seriam realmente vitais serem implementadas?

Começo por falar da falta de audácia que aconteceu na legislatura do Governo anterior, onde a descentralização foi uma pseudo-descentralização. Atribuíram a titularidade e a manutenção dos edifícios da rede de cuidados de saúde primários, às câmaras municipais, assim pude observar a visão redutora de uma verdadeira descentralização. Poderiam ter envolvido as câmaras municipais, juntos encontraríamos competências para assumirmos que traria benefícios aos utentes do SNS. A mesma situação aconteceu com o processo “atabalhoado” da criação das ULS, que confesso, ainda não ter visto qualquer benefício para os utentes e mais uma vez as câmaras municipais não foram envolvidas no processo.

Quanto a medidas fundamentais, considero que o acesso ao médico geral de saúde familiar é basilar e não nos podemos esquecer que existem muitos portugueses sem este apoio. Sabendo nós, que uma boa saúde oral é fundamental para a nossa saúde integral, considero que a medicina oral deveria ser parte integrante do SNS e não existir nos moldes atuais, onde por exemplo em Famalicão a ULS Médio Ave, tem um médico dentista (investimento financeiro da câmara municipal na aquisição da cadeira de estomatologia e restante equipamento que existe no consultório) para cerca de 100.000 utentes, caso a maior parte destes utentes não tivessem a possibilidade de recorrerem ao privado.

Uma outra medida que é também urgente implementar em todas as unidades de saúde, são os podologistas que fazem um excelente trabalho na prevenção do aparecimento dos problemas associados ao chamado “pé diabético” e que leva a muitas amputações. É ainda fundamental, reforçar as equipas de psicólogos e de pedopsiquiatras nas ULS (as listas de espera são imensas e os problemas de foro mental estão a aumentar exponencialmente).

 

– No setor da Farmácia, o que acha que precisaria de ser feito/mudado?

Na minha opinião o papel das farmácias na promoção de uma saúde de proximidade, têm evoluído muito positivamente pois têm implementado muitos programas dentro e fora de portas, no que diz respeito ao apoio e promoção do bem-estar dos utentes. Acho que ainda há muito a fazer, mas dependerá do Ministério da Saúde considerar as farmácias como verdadeiros parceiros do SNS. Temos recentemente o exemplo da vacinação quer da gripe sazonal quer da Covid-19, que correu muito bem e as farmácias demonstraram estar à altura do desafio, portanto, este exemplo poderá ser transposto para outros em que o utente seja sempre o centro das decisões.