Farmácia na Democracia 1667

No dia 30 de janeiro, os portugueses são chamados às urnas. As Eleições constituem o principal momento de participação democrática de qualquer cidadão sendo que, através do direito ao voto, garante-se a representatividade das diferentes ideologias e visões para o Estado Português, de acordo com a expressão democrática da população. Nos dias antecedentes ao ato eleitoral, é possível conhecer os diversos programas dos partidos candidatos ao parlamento. Para qualquer farmacêutico, as propostas relacionadas com a Saúde são de particular interesse, e nunca foi tão falado do Acesso aos Cuidados de Saúde, do SNS, da Saúde centrada no Cidadão, da Saúde Mental, como hoje. Importa perceber se os Farmacêuticos fazem parte da discussão.

Ao longo dos anos, Portugal foi palco de importantes mudanças políticas, desde a queda da Monarquia e a Implantação da República, até ao 25 de abril e posterior entrada na CEE. Os Farmacêuticos viveram intensamente estes momentos, sendo que as próprias farmácias têm-se constituído importantes espaços de debate e pensamento livre. Alguns nomes destacaram-se entre a profissão farmacêutica, como deputados, autarcas e até um Ministro das Finanças. No entanto, estamos em 2022 e, ao analisarmos a constituição da atual Assembleia da República, constatamos uma dura realidade: não existe um único farmacêutico que faça parte do principal órgão deliberativo do país. 

Por outro lado, importa refletir sobre a valorização política que se dá à profissão: tem existido uma procura da articulação do SNS com a rede de farmácias? As Ordens Profissionais são devidamente auscultadas relativamente às políticas de saúde? Os serviços farmacêuticos de valor acrescido para os portugueses são remunerados pelo Estado? Existem políticas públicas que procurem assegurar a sustentabilidade do setor? Estas são apenas algumas das muitas questões inquietantes que surgem regularmente entre os farmacêuticos quando sentem que os decisores políticos não os compreendem. Porém, nestas legislativas, vão ter que nos ouvir.

Nunca o Setor Farmacêutico teve uma relevância tão grande como nos dias de hoje. As Farmácias têm estado, e continuam a estar, na linha da frente no combate à pandemia, aconselhando o uso responsável e seguro do medicamento, testando massivamente a população e estabelecendo uma relação de proximidade e confiança com os portugueses. Na era da desinformação, importa que os especialistas do medicamento, multidisciplinares e cientificamente diferenciados, estejam no centro da esfera da Saúde Pública, numa lógica de intercolaboração com os demais profissionais e agentes do Sistema de Saúde. 

Temos observado uma revolução na visão que a sociedade tem da Saúde, sendo que se perspetiva um aumento no investimento neste Setor, assim como uma maior mobilização para a prossecução de resultados e valor. Para que estes novos objetivos se concretizem, é crucial que os Farmacêuticos estejam inseridos na vanguarda dos Cuidados de Saúde, intervindo em prol da população. Isto só será possível se todos se fizerem ouvir, se se mobilizarem como legítimos profissionais de saúde, no seio de uma classe profissional robusta e unida, ao serviço da população, pois o país é feito dos seus cidadãos, e a Saúde é feita de todos, utentes e profissionais, sendo imprescindível a participação de excelência dos Farmacêuticos. 

No dia 30 de janeiro, os portugueses vão às urnas. Ao longo de todo o ano, os portugueses vão às farmácias. E os Farmacêuticos? Continuam e continuarão ao serviço do seu país. No entanto, e para 2022, importa assegurar uma postura politicamente ativa, direcionada para um Sistema Nacional de Saúde mais robusto que proteja o bem-estar e a vida de todos os portugueses.

Bruno Alves
Presidente da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF)