Farmácias: “Estes estudos também servem para uma discussão responsável sobre o valor da prestação de cuidados” 336

Envolver as farmácias na campanha de vacinação sazonal, do ponto de vista do utente, “foi uma ótima decisão pela proximidade e pela qualidade da prestação de serviço”, visto que “temos sete mil farmacêuticos com diferenciação em administração de vacinas”, declarou, hoje, Helder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF), durante a apresentação de um estudo, em Lisboa, promovido pela Associação Nacional das Farmácias (ANF) e conduzido pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR), que avaliou o impacto da participação das farmácias comunitárias na campanha de vacinação sazonal de 2023/24.

O responsável da OF, que comentava as conclusões do referido estudo, destacou ainda a poupança de 2,4 milhões de euros em deslocações, um “aspeto fundamental”, já que “uma das razões pelas quais as pessoas não são vacinadas são as distâncias e a dificuldade de deslocação”.

Estudo sobre vacinação sazonal nas farmácias: poupança de 2,4 milhões de euros para os utentes

Discutir “o valor da prestação de cuidados e o seu pagamento”

Verificou-se ainda, como referido pelo farmacêutico, um “efeito positivo no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, devido “à quantidade de horas que puderam ser utilizadas na prestação de outros serviços igualmente importantes, pois ficaram libertadas pela administração de vacinas nas farmácias”.

Porém, para Helder Mota Filipe, isto “leva-nos a outro aspeto que não foi frisado no estudo, que é o facto de que essas horas tiveram de ser encaixas na vida das farmácias”.  Assim sendo, “estes estudos também servem para uma discussão responsável sobre o valor da prestação de cuidados e o seu pagamento, sendo importante que a poupança gerada por esta decisão seja depois discutida entre o pagador e o prestador e que adequadamente esse pagamento seja efetuado porque queremos sustentabilidade do sistema e um custo-efetividade positivo”.

 

Aumentar a literacia em saúde

O bastonário da OF salientou ainda a questão da hesitação vacinal e o papel do farmacêutico comunitário no seu combate, ou seja, tem “a capacidade de aumentar a literacia relativamente às vacinas e à importância da vacinação”. O que é uma maneira de “diminuir as desconfianças relativas às vacinas”, acrescentou.

Alargar a outras vacinas

A experiência do aumento da capacidade da vacinação através das farmácias “pode ainda ser maximizada”, declarou o farmacêutico, argumentando que “temos problemas de acesso a outras vacinas e de adesão, nomeadamente da população adulta, às vacinas do Programa Nacional de Vacinação, como o tétano e difteria, e [incluir as farmácias] pode ser um modo de aumentar a cobertura vacinal”.

 

Task shifting

Helder Mota Filipe salientou, igualmente, a relevância de “desconstruir desconfianças que resultam de corporativismos”. Neste sentido, argumentou que “é importante que possamos por o doente no centro do sistema e o seu interesse como objetivo e aí temos de discutir a redefinição de papéis, o task shifting”. Por outras palavras, “os médicos vão ter de deixar de fazer algumas coisas para fazer outras, assim como os farmacêuticos”. Daí o bastonário da OF ter defendido que é preciso “mais colaboração entre profissionais” e “este estudo veio demonstrar ser uma boa solução”.

Deste modo, “fomos pioneiros, na Europa, na vacinação por farmacêuticos comunitários, na altura com alguma hesitação por parte das autoridades”. No entanto, de acordo com Helder Mota Filipe, “hoje temos mais de 50 países em que os farmacêuticos já fazem parte do processo vacinal. Mas há instituições responsáveis que continuam a fazer contravapor a uma realidade que é vantajosa para o utente, para a saúde publica e para sociedade”. Por isso, deixou o apelo para que “estas instituições e organizações revejam a forma de pensar em relação à vacinação porque já estão desfasadas da realidade”.

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