“Os serviços farmacêuticos dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) vivem atualmente em situação de cuidados paliativos”. É assim que Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos descreve a situação vivida com a falta de profissionais e a dificuldade de manter as farmácias hospitalares a funcionar em pleno.
Para Ana Paula Martins faltam cerca de 150 farmacêuticos nas farmácias hospitalares do SNS, e apesar de admitir que houve algumas contratações para os serviços farmacêuticos com a passagem das 40 para as 35 horas de trabalho semanais, não chegam para todos os serviços.
A bastonária chega mesmo a indicar que há serviços farmacêuticos de hospitais públicos que já tiveram de encerrar no período noturno.
“Há serviços que estão em cuidados paliativos, sim. Temos hospitais hoje onde a urgência noturna [da farmácia hospitalar] já fechou”, afirmou.
Ana Paula Martins sublinha que as farmácias hospitalares do SNS vivem “na linha vermelha”, com insuficiência de recursos para assegurar um adequado funcionamento e questiona como é que hospitais com serviços farmacêuticos encerrados conseguem assegurar uma medicação não programada e urgente durante a noite, por exemplo.
“Durante a noite, quando um médico precisa de uma medicação não programada, como fazem os hospitais? Como se garante então a segurança e se garante que um medicamento não é trocado por outro?”, questiona a bastonária.
Ana Paula Martins aproveitou ainda para falar sobre a Resolução aprovada pela Ordem dos Farmacêuticos que apela a uma “rápida intervenção” do primeiro-ministro e da ministra da Saúde na regulamentação da carreira farmacêutica, em falta há dois anos e que impede a contratação de profissionais para os hospitais.
“A classe farmacêutica está muito indignada (…) Isto é de uma enorme gravidade. Vemos isto com um grande desagrado”, afirmou.
“Sem a regulamentação da carreira farmacêutica, os serviços farmacêuticos hospitalares continuarão impedidos de contratar novos recursos. (…) Os inevitáveis constrangimentos ao funcionamento das farmácias hospitalares vão sendo combatidos, até à exaustão, por profissionais de elevada dedicação e sentido de responsabilidade, que não descuram esforços para que os utentes não sofram consequências de decisões que não são suas”, refere a bastonária.
A carreira farmacêutica foi instituída em agosto de 2017, mas é necessário um diploma que a regulamente e que permita assim a entrada de farmacêuticos nos hospitais públicos ao abrigo da nova carreira, iniciando o seu percurso profissional e formativo pós-graduado.