A Associação Nacional das Farmácias (ANF) apresentou no dia 15 de dezembro as principais conclusões de um Estudo realizado pelo CEFAR – Centro de Estudos e Avaliação em Saúde, que revela “comprovados ganhos em saúde com a testagem nas farmácias”.
“A colaboração das farmácias com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), de que é exemplo a testagem realizada durante a pandemia, tem enormes vantagens para as pessoas e para um melhor funcionamento e sustentabilidade dos serviços de saúde em Portugal, pelo que deve ser potenciada noutras intervenções profissionais”, afirma Ema Paulino, Presidente da Associação Nacional das Farmácias.
Durante o evento, o Ministro da Saúde enalteceu o esforço de toda a comunidade neste período e afirmou: “Não tenho dúvida nenhuma de que uma parte do que aconteceu se deveu também à ação das farmácias”. No entender de Manuel Pizarro, em “qualquer estratégia de Saúde para Portugal que, sendo um país pequeno é um país com enormes diferenças regionais e geográficas, faz todo o sentido, não apenas continuar a ver, mas valorizar, as farmácias como parceiros do SNS, e melhorar os resultados em saúde para os portugueses”. E acrescenta que “em muitos casos a farmácia é mesmo o primeiro interface com as pessoas que procuram cuidados de Saúde e é o primeiro local de aconselhamento. É um SNS 24 sem telefone”.
Na ocasião, o Ministro da Saúde destacou os projetos que, em colaboração com as farmácias, serão implementados em 2023: a renovação automática da medicação de doentes crónicos e a distribuição dos medicamentos prescritos nos hospitais para tratamento de algumas doenças, que poderão ser realizados nas farmácias, medidas com grande impacto na vida das pessoas e no alívio da sobrecarga dos serviços e profissionais do SNS.
A inclusão das farmácias na estratégia nacional de testagem permitiu uma maior cobertura nacional, reduzindo as desigualdades de acesso dos cidadãos, permitindo a realização de testagem em mais setenta e quatro concelhos, assegurando-se, assim, a testagem em 266 concelhos. Num momento particularmente conturbado no SNS e quando, em muitos locais do país, a farmácia é o único espaço de saúde ao alcance da população “a colaboração das farmácias contribui para uma clara melhoria dos cuidados de saúde de proximidade”, salienta Ema Paulino.
“Encontrar respostas que vão ao encontro das necessidades em saúde das comunidades locais e assegurar a coesão territorial faz parte da nossa identidade.”, refere ainda a presidenta da ANF. A colaboração das farmácias com o SNS pode ser potenciada através da prestação de vários serviços de proximidade comparticipados, de que são exemplos a testagem VIH, Hepatites, a testagem dupla Covid e Gripe, bem como de programas de gestão de afeções menores, e de apoio à adesão a novas terapêuticas para doenças crónicas. Reforçar a intervenção das farmácias contribui para a otimização dos resultados em saúde, reduzindo a pressão nas urgências hospitalares, e promovendo a sustentabilidade do sistema de saúde.
Principais conclusões sobre o contributo das farmácias para os cuidados de saúde de proximidade através da testagem
Entre janeiro de 2021 e setembro de 2022, as farmácias realizaram mais de 13 milhões de TRAg à população. O pico foi atingido em janeiro de 2022 com as farmácias a responderem a mais de 90% das solicitações de TRAg feitos em Portugal. Com o apoio da Associação Nacional das Farmácias, a rede de 1.650 farmácias envolvidas nos testes conseguiu, num curto espaço de tempo, reunir as condições necessárias para a prestação de um serviço de fácil e rápido acesso pela população, com salvaguarda dos requisitos legais, de segurança, qualidade e confidencialidade.
A inclusão das farmácias na estratégia nacional de testagem, permitiu que mais 74 concelhos passassem a ter um local de testagem rápida, preenchendo lacunas geográficas e socioeconómicas na cobertura do território nacional como um todo. O número de concelhos cobertos com farmácias em Portugal continental foi de 266 (95,7%). Segundo o Estudo do CEFAR, a possibilidade de recorrer à farmácia comunitária permitiu a cada português poupar, em média, 2 km de deslocação por teste realizado, sendo que em 19 municípios essas deslocações seriam superiores a 25km sem as farmácias.
Assim, as farmácias contribuíram para diminuir o índice de desigualdade (Gini) de acesso estimado pela distância média (Kms) ao local de realização TRAg mais próximo, com especial impacto para os portugueses que vivem em municípios com menor densidade populacional, onde o poder de compra é menor e naqueles mais envelhecidos: – 38,1% em municípios com menos habitantes; -32,2% nos mais envelhecidos e – 15,2% em municípios mais pobres.
Também a contribuição das farmácias para o número médio de horas de acesso para realização de TRAg por 1000 habitantes, foi relevante, com um aumento de mais de 9 horas/1000 hab de disponibilidade e uma redução de 38,6% no índice geral de desigualdade (Gini) medido pelas horas de acesso da população à TRAg. Quando consideradas as populações mais vulneráveis observou-se, uma vez mais, um elevado impacto na redução da desigualdade pela inclusão das farmácias no esforço de testagem: – 43,3% em municípios com menos habitantes; -51,3% nos mais envelhecidos e – 54,6% em municípios mais pobres.
A possibilidade de realização de TRAg, em complemento à testagem PCR, teve como efeito um maior acesso e diagnóstico mais rápido, que resultou em isolamento mais célere, contribuindo para a redução do número de infeções (-14,5%), dias de internamento (-7,4%) e mortes (-6,7%) – valores estimados para um período de 60 dias.
O Estudo de avaliação sobre o TRAg de uso profissional para SARS-CoV-2 nas Farmácias Comunitárias em Portugal, desenvolvido por investigadores do CEFAR, teve como objetivo avaliar o impacto para a sociedade da integração das Farmácias na rede de locais de realização de TRAg de uso profissional para o diagnóstico do SARS-CoV-2, após janeiro de 2021 (início da realização de TRAg nas Farmácias).
Para além dos elevados níveis de satisfação com a rapidez na comunicação do resultado, na localização da farmácia e da confiança na competência do profissional, mais de 70% dos inquiridos indicaram preferir realizar o teste noutra farmácia caso o serviço não estivesse disponível na farmácia onde o realizou. O índice de satisfação média de pessoas satisfeitas com serviço de testagem nas farmácias é superior a 4,5 em todos os domínios (avaliação de 1 a 5), destacando-se os seguintes: 4,8 na rapidez na comunicação do resultado; 4,8 na localização da farmácia; e 4,7 na confiança na competência do profissional.