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Farmácias temem que diabéticos fiquem sem o medicamento mais usado

04-Abr-2014

Falha na produção levou marca que fornece 36% das embalagens a suspender comercialização. Armazéns estão a racionar genéricos.

As farmácias estão preocupadas com a possibilidade de nas próximas semanas não haver os antidiabéticos mais usados e mais baratos em quantidade suficiente para abastecer o mercado, problema que poderia levar doentes com diabetes tipo 2 e outras síndromes metabólicas a adaptar-se a nova medicação, dez vezes mais cara. O laboratório que fornece 36% das embalagens de metformina consumidas pelos portugueses, a Merck alemã, informou esta semana que as vendas estão suspensas por problemas de produção. O aviso motivou uma corrida das farmácias aos genéricos das várias dosagens do medicamento e os distribuidores começaram a racionar as entregas. «Uma encomenda que demorava quatro horas a chegar está a demorar 48h e não vem completa», disse ao “i” um farmacêutico de Lisboa.

Neste momento, a expetativa do setor é perceber se os genéricos vão conseguir compensar a saída temporária da Merck. Por semana são vendidas 60 mil embalagens de metformina, 36% de marca, disse ao “i” a farmacêutica, que confirmou a rutura de stock dos seus medicamentos, notificada ao INFARMED e que aliás fez com que os mesmos deixassem de aparecer nos programas de prescrição dos médicos. É este mercado que os genéricos terão de garantir a 100% para os doentes continuarem a fazer esta medicação, considerada de primeira linha.

O fabrico das diferentes dosagens de metformina (Stagid, Risidon e Glucophage) foi suspenso em dezembro no seguimento de uma auditoria que apurou deficiências nas boas práticas de fabrico. Os problemas não prejudicaram a segurança dos fármacos, que continuaram a ser escoados. O primeiro a acabar foi o Stagid, há três semanas. Como se trata de uma dosagem sem genérico (700 mg), muitas farmácias começaram a enviar os doentes de novo ao médico para estabelecer um outro plano de tratamento.

«Existe sempre o risco de os doentes começarem a descompensar se não forem medicados com novas dosagens», alertou ao “i” Luís Cunha, da Farmácia Duque D’Ávila, em Lisboa, que também tem notado um aumento das dificuldades no abastecimento e avisa que, havendo alternativas para a metformina, serão sempre mais caras para os utentes e para o SNS.

Na maioria são já associações entre esta molécula e outra, ainda sem genérico, e que fazem a despesa passar de 3 a 4 euros/mês para mais de 40.

Ontem já não havia também o Risidon (metformina 1000). «Não há metformina de marca mas os genéricos de todas as dosagens estão disponíveis ainda que os armazéns estejam a ratear as encomendas, no sentido de gerir o ímpeto na procura gerado por esta incerteza de o mercado ser capaz de responder», disse ao “i” António Hipólito Aguiar, ex-presidente da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Farmacêuticos.

A Merck disse ao “i” que o fornecimento será retomado «previsivelmente no final do abril». Nos armazéns, a informação é que tal poderá só acontecer em junho. A incerteza sobre quando haverá fármacos de marca é apontada como um fator para os armazenistas não estarem já a pedir muitos genéricos. Por outro lado, os laboratórios que os vendem estão em período de mudança de preços e novas etiquetagens, o que demora as entregas. Será preciso perceber ainda a agilidade para responder à procura e colocarem mais metformina no mercado – a produção está ligada ao histórico e é decidida muitas vezes a nível internacional, processo que não é imediato. Por esse motivo, fontes do sector dizem ser impossível responder se, mesmo havendo diferentes marcas de genéricos, serão capazes de disponibilizar mais 21.600 embalagens por semana.

O “i” tentou perceber se houve medidas do INFARMED para obter essa garantia. O regulador não respondeu mas reiterou que há alternativas e em quantidade suficiente para manter o acesso. O INFARMED diz que as farmácias podem fazer a substituição de embalagens prescritas por quantidades equivalentes, inferiores ou até superiores quando os medicamentos receitados não estejam à venda e desde que o justifiquem, algo só possível agora que foi comunicada a rutura de stock.