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Fígado gordo não alcoólico será «grande causa de doença hepática»

16 de Julho de 2015

A presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), Helena Cortez-Pinto, alertou ontem que a prevalência de gordura no fígado sem consumo alcoólico excessivo será «a próxima grande causa de doença hepática» em Portugal.

 

A especialista em gastrenterologia apontou que, em Portugal, a situação «é preocupante» e que, segundo um estudo recente no âmbito do Projeto E-Cor, se verifica a prevalência de gordura no fígado – estateose hepática – sem consumo alcoólico excessivo em mais de um quarto (26%) da população portuguesa.

 

«No entanto, ainda não vemos com tanta frequência como nos EUA [casos de] cirrose associada à esteatose hepática não alcoólica [(EHNA)]», acrescentou Helena Cortez-Pinto, salientando que «talvez o facto de muitos doentes associarem o risco metabólico (obesidade, etc.) ao consumo excessivo de álcool leva a que a doença não seja tão frequentemente reconhecida, por ser atribuída ao álcool».

 

A causa mais frequente da EHNA é «o aporte calórico excessivo associado à reduzida atividade física», apontou a especialista do Hospital de Santa Maria.

 

Os médicos portugueses têm participado em congressos com investigação básica e clínica «a ser publicada em revistas médicas de elevado impacto», confessou, no entanto, cingem-se, perante o doente, a «propostas terapêuticas» para controlar situações frequentemente associadas a esta condição, como sejam a diabetes, dislipidémia ou hipertensão.

 

«Na prática atual, os médicos portugueses estão a lidar com a situação, avaliando em cada doente qual a gravidade da situação e o seu risco de progressão, e aconselhando sobretudo a mudança de estilo de vida, com aumento da atividade física e dieta, visando a perda de peso nos indivíduos obesos ou com sobrecarga de peso», explicou.

 

Helena Cortez-Pinto referiu, em relação ao tratamento, que há planos para que Portugal entre num ensaio clínico multicêntico com o ácido beticholic, que deverá começar no fim deste ano.

 

«Existem, no entanto, outros medicamentos que também estão ou vão ser testados a breve prazo para esta doença, como por exemplo carbonos nanoporosos adsorventes», medicamento que faz parte de um protocolo do Horizonte 2020, no qual a Faculdade de Medicina de Lisboa e o Departamento de Gastroenterologia são parceiros, acrescentou.

Investigadores médicos norte-americanos disseram à “Lusa” acreditar que «dentro de cinco anos haja um medicamento que cure a galopante epidemia da inflamação hepática não alcoólica», acrescentando que, no presente, «um novo fígado é a única opção para muitas pessoas».

 

Joel Levine, um dos especialistas envolvidos nestas investigações, referiu que esta doença «brevemente será o principal motivo para o transplante de fígado», apesar de, presentemente, ser «a causa número dois».

 

Reforçou, ainda, o facto da EHNA ter passado despercebida, principalmente porque «os médicos a confundiam com a hepatite alcoólica, que também envolve o acumular de gordura no fígado».

 

O especialista explicou que a distinção surgiu, sobretudo, após aparecer um elevado número de casos de crianças com o problema, algumas já com cirrose hepática, o que ajudou a dissipar quaisquer dúvidas de que a doença não estava relacionada com o consumo excessivo de álcool.