A segurança do doente é um assunto crítico na área da saúde. As organizações de
serviços de saúde mantêm o seu interesse em trabalhar na total e parcial recuperação
de vários tipos de erros médicos, nomeadamente de medicação, diagnóstico e
tratamento entre outros. Nesse sentido, tentam corrigir e ajustar os sistemas, isto é o
conjunto ordenado de elementos que se encontram ligados e agem entre si, quando
estes falham, minimizando assim os danos que os erros possam provocar nos
pacientes.
Confrontamo-nos hoje em dia com histórias reais de admissões hospitalares onde
pacientes idosos sofreram vários tipos de erros de medicação. Isto acontece quando
por exemplo os idosos se dirigem ao hospital e não são ouvidos relativamente à
medicação que estão a tomar, dado que muitos destes pacientes têm uma interação
com diferentes medicamentos durante um largo período de tempo.
Esta situação poderá resultar num simples incidente, e se o doente for ouvido
atempadamente, o mesmo pode ser travado a tempo. No caso do doente ser medicado
sem que seja investigando o seu histórico, isto poderá resultar num evento adverso
(ocorrências indesejáveis que causam danos, por atos cometidos por omissão).
Existem vários conceitos e modelos de gestão capazes de desenvolver trajetórias de
melhoria contínua para o paciente. “The science of improvement” é um conceito que
se desenvolveu com o intuito de oferecer investigação em processos de melhoria em
saúde, trazendo consequentemente uma melhor qualidade de vida, segurança para o
paciente e valor em saúde (Improvement Science Research Network, ISRN) (1).
Sendo uma área em crescimento, tem-se desenvolvido em consonância com outras
disciplinas para responder à chamada do Insitute of Medicine Report (1999) (2), isto é
promover e assegurar a segurança do doente.
Vários métodos de melhoria contínua tiveram a sua origem no trabalho de Deming
(1993) (3). Deming defende que o processo de melhoria pode ocorrer através da
aplicação simultânea e sustentada de um sistema de profundo conhecimento e de
conhecimentos especializados em várias áreas. O objectivo de todos esses métodos
será o de melhorar o desempenho de líderes e colaboradores, práticas e tarefas diárias.
Charles Vincent (2017) (4) no seu artigo mais recente, alerta para o facto de haver
uma extrema necessidade de investigação e investimento em desenvolver novos
métodos de análise de erros e incidentes que afectam a segurança do doente. Segundo
este autor, a primeira necessidade de uma visão renovada da análise de erros e
incidentes é a de que a saúde em si mesma está a mudar drasticamente. As pessoas
vivem mais, a população está mais envelhecida e com inúmeras comorbidades que
são geridas em longos períodos de tempo. Os cuidados de saúde passam cada vez
mais a ser geridos em casa e os pacientes e as famílias acabam por estar ao seu
próprio cuidado.
Têm surgido estudos onde são apresentadas soluções para combater estas
vulnerabilidades na população idosa. Os mesmos sugerem potenciais soluções para os
problemas identificados, dando prioridade para se corrigir o fornecimento da
medicação nas farmácias comunitárias e hospitalares; nos processos de triagem para
permitir uma avaliação efetiva e atempada das crianças e dos idosos; no diagnóstico e
encaminhamento de idosos com doença aguda que necessitam de serviços médicos
fora de horário; e comunicação eficaz para redes de segurança robustas entre os
profissionais de saúde, pais, filhos e familiares. Nesse sentido, a análise dos
incidentes atua como um estímulo poderoso e serve de guia para o desenvolvimento e
implementação das intervenções para melhorar os sistemas de saúde (5).
Para além disso é necessário também que a visão de segurança do doente se
amplifique para poder alcançar outro tipo de objectivos. Assim, a análise de
incidentes específicos é um factor importante. No entanto, existe uma crescente
evidência que os danos e as falhas que os pacientes sofrem são também um acumular
the problemas de períodos de tempo muito longos e que englobam múltiplos
contextos (4).
As perspectivas dos pacientes e dos cuidadores raramente são aferidas, e no entanto
eles são os únicos que conseguem transmitir a informação detalhada de um grande
período de tempo.
Nesse sentido, é necessário que exista o envolvimento dos pacientes idosos e das
famílias nos questionários realizados aos pacientes, e que haja um aumento da atenção
dada aos aspectos emocionais e sociais dos cuidados. Para além disso é necessário
que se dê mais ênfase à comunicação e coordenação dos cuidados ao longo do tempo
e entre as organizações de saúde. Parece-nos também importante que seja feita uma
ligação da análise dos incidentes com a melhoria dos sistemas e analisar o processo
do paciente na perspectiva do próprio.
Referências:
(1) Improvement Science Research Network, Improving patients network, UT Health, 2017.
(2) Institute of Medicine (1999), “To Err is Human, Building a Safer Health System”, National Academy Press, Washington, DC.
(3) Deming WE. The new economics, 2nd edn, Cambridge, MA, USA: MIT, 1993.
(4) Vincent C., Carthey J., Macrae C. and Amalberti R. (2017), Safety analysis over time: seven major changes to adverse event Investigation; Implementation Science, 12:151.
(5) Vincent C, (2016), Amalberti R. Safer healthcare, Strategies for the real world. London: Springer.
Filipa Fonseca
(A coluna Notas da Nova é uma contribuição para a reflexão na área da saúde, pelos membros do centro de investigação Nova Healthcare Initiative – Research. São artigos de opinião da inteira responsabilidade dos autores.) |