FNAM acusa Governo de incompetência ao falhar meta de dar médico de família a todos 592

FNAM acusa Governo de incompetência ao falhar meta de dar médico de família a todos

12 de Agosto de 2015

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) acusou hoje o Governo de ter fixado de forma leviana o objetivo de dar um médico de família a cada português e de ter sido incompetente ao conduzir essa meta.

«O Ministério da Saúde colocou como objetivo dar um médico de família a cada português. Passados quatro anos é possível dizer com segurança e justiça que o objetivo foi levianamente fixado e incompetentemente conduzido», afirmou o sindicalista Henrique Botelho, numa conferência de imprensa da FNAM hoje em Lisboa destinada a fazer um balanço dos últimos quatro anos das políticas de saúde.

Henrique Botelho recordou que o rácio que estava definido há quatro anos era de um médico com uma lista até 1.550 utentes, «um número mais ou menos consensual entre os países desenvolvidos».

A FNAM assume ter aceitado em 2012 um alargamento «transitório e temporário» das listas de utentes por médico de família até 1.900 utentes.

«Mesmo com esse alargamento, o Ministério da Saúde não foi capaz de prever as entradas e saídas de profissionais», declarou, citado pela “Lusa”.

Quanto à ideia de alargar novamente a lista de utentes até 2.500 doente por médico, a FNAM considera que «coloca definitivamente em causa» a prestação de cuidados e é um número «compatível com os países em desenvolvimento».

«Não se mete um litro e meio de água num jarro que só leva um litro», comparou Henrique Botelho, lembrando que médicos com cerca de 2.500 utentes são realidades em países da América Latina, enquanto em sistemas como o do Canadá cada médico de família tem 1.100 doentes.

Para a presidente da FNAM, são as políticas do Ministério que levam a que ainda haja cerca de 1,2 milhões de cidadãos sem médico de família, referindo-se nomeadamente a políticas que entende terem conduzido à emigração e a reformas antecipadas dos profissionais de saúde.

«O objetivo de ter um médico para cada português não existem, nem vai existir, porque não se investiu na forma correta. O correto devia ter sido apoiar e implementar a reforma dos cuidados de saúde primários», afirmou Merlinde Madureira.

A FNAM considera que o Ministério bloqueou a reforma dos cuidados de saúde primários e criou «dificuldades progressivas» à constituição de novas unidades de saúde familiar (USF).

Mais de 3.000 médicos pediram reforma antecipada do SNS desde 2011
Mais de três mil médicos pediram reforma antecipada desde 2011, muitos para continuarem a trabalhar no privado, segundo dados da FNAM, que alerta ainda para a emigração de clínicos sem precedentes na história do país.

A FNAM mostrou preocupação com o abandono de profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), quer por via da emigração como através de reformas antecipadas.

«É um êxodo de médicos nunca visto no nosso país. Nem no período da Guerra Colonial houve tantos médicos a saírem para outros países. Não porque no seu país não tivessem emprego, mas porque estavam a ser mal tratados, mal remunerados e sem perspetivas de progressão. São centenas e centenas de médicos», afirmou Mário Jorge Neves, dirigente da FNAM

Trata-se, disse, de uma «autêntica fuga de cérebros», com a saída de «pessoas altamente qualificadas». Porque, segundo Mário Jorge Neves, não são apenas os profissionais em início de carreira a emigrar, havendo alguns que atingiram mesmo o topo da carreira médica.

Merlinde Madureira, presidente da FNAM, sublinhou ainda que, no caso dos jovens médicos, há muitos países «ávidos de contratar» portugueses, como os países nórdicos, que chegam mesmo a oferecer propostas de contrato antes de acabarem a especialidade.

Já no caso do abandono do SNS para o setor privado, a presidente da FNAM considera que são os médicos mais experientes ou diferenciados que mais têm oportunidades, muitos recorrendo à reforma antecipada para continuar a exercer apenas no privado.

Merlinde Madureira sublinha que as reformas antecipadas não estão a ser usadas para os médicos deixarem de trabalhar, mas antes para abandonarem o setor público.

«Queremos desmistificar aquilo que parece ser tudo rosas num Ministério onde, realmente, predominam os espinhos», referiu a dirigente sindical.