A Federação Nacional dos Médicos (Fnam) lamentou hoje que, apesar dos alertas, tenham sido as diversas mortes na sequência dos atrasos nas chamadas de emergência a forçar o Governo a ouvir os técnicos de emergência pré-hospitalar.
Num comunicado a quem a Lusa teve acesso, a Fnam diz que a ministra da Saúde “poderia ter ouvido, a tempo e horas”, o alerta dos profissionais da emergência pré-hospitalar sobre as insuficiências, bem como as soluções para a melhoria das suas condições de trabalho e acesso a serviços.
“Ao escolher não o fazer, contribuiu para este desfecho trágico. A Fnam lamenta as oito vítimas e presta sentidas condolências às famílias”, escreve a federação.
Na nota hoje divulgada, a Fnam recorda que este ano já ocorreram mais de 40 partos em ambulâncias, “além de todas as consequências que se têm feito sentir para os utentes pelas crescentes dificuldades no acesso ao SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.
Sublinha que “o serviço de excelência” prestado pela emergência pré-hospitalar se deve “à elevada competência e resiliência dos seus profissionais” e lamenta os “fortes constrangimentos” que esta área tem sofrido, sobretudo “devido à falta de investimento nos seus recursos humanos e materiais”.
“A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que não negociava nada com o sindicato do setor, garante agora que vai negociar tudo, mas podia e devia ter demonstrado essa disponibilidade a tempo de evitar oito tragédias”, afirma, referindo-se à falta de resposta da tutela aos alertas dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que acabaram por entrar em greve às horas extraordinárias no dia 30, uma paralisação desconvocada na quinta-feira.
A Fnam lembra que Portugal dispunha, até aqui, de “excelentes indicadores de desempenho”, quer ao nível da emergência pré-hospitalar, quer ao nível dos cuidados de saúde materno-infantil.
“A falta de competência de quem está a conduzir os desígnios do SNS, está a perigar os resultados que levaram décadas a construir”, considera a federação, que exige igualmente “uma negociação séria” com os profissionais de saúde, rejeitando “medidas de contingência avulsas definidas pela pressão mediática”.