Formação médica em risco devido ao número de estudantes nos hospitais 09 de Novembro de 2015 A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) alega que a formação médica está em risco em Portugal devido ao número de estudantes nos hospitais, aviso sustentado num estudo divulgado ontem em Coimbra. De acordo com o estudo sobre as Condições Pedagógicas das Escolas Médicas Portuguesas a que a agência “Lusa” teve acesso, os doentes que recorrem a hospitais afiliados de sete escolas médicas existentes no território continental (em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Covilhã) «podem encontrar, juntamente com o seu médico, em média, cerca de 8 estudantes», número que pode chegar aos 18,5 alunos por cada único tutor médico e ultrapassar os 25 em algumas unidades curriculares. «Estes rácios elevados são prejudiciais, não só para a aprendizagem dos estudantes, mas mais ainda para os doentes que, numa situação de fragilidade, são confrontados com um número muito elevado de médicos e estudantes à sua volta», sublinha a ANEM. Nas conclusões do estudo lê-se que o ensino em meio clínico «apresenta particular descontentamento por parte dos estudantes» e que um rácio estudante-tutor elevado «encontra-se diretamente relacionado com a insatisfação estudantil para com o ensino em meio clínico». De acordo com dados do estudo, o melhor rácio médio estudante-tutor, envolvendo estudantes do 3º, 4º e 5º anos, ocorre na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (2,55 estudantes por tutor) e o pior na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), com 18,5 em média. Na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (Covilhã) o rácio é de 3,13 estudantes por tutor, a Escola de Ciências da Saúde da Universidade de Minho (Braga) apresenta 3,79, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto 4,62, a sua congénere da Universidade de Lisboa 7,39 e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Porto) regista 9,15 estudantes por tutor médico. Por unidade curricular, a especialidade de Ortopedia na FMUC tem 34,9 estudantes por tutor e a Cirurgia Geral 25,7, os valores mais elevados registados no total das sete escolas médicas. No extremo oposto, os melhores rácios por unidade curricular registam-se na Universidade Nova de Lisboa, onde em Medicina Geral e Familiar cada tutor acompanha um estudante (rácio de 1, enquanto em Coimbra ultrapassa os 20), seguindo-se Dermatologia, Nefrologia e Reumatologia com um rácio de 1,5. Em comunicado, a ANEM sustenta ainda que as escolas com maior número de ingressos e mais anos de funcionamento «apresentam menor satisfação estudantil» do que as escolas com menor número de novos estudantes e mais recentes, situação que enquadra no facto de Portugal ser o quarto dos 34 países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior número de médicos por habitante (12,2 estudantes diplomados por 100 mil habitantes). A ANEM frisa ainda que esta é uma tendência «crescente» – já que, nota, ao longo dos últimos 20 anos, o número de diplomados em Medicina aumentou quase 400% – cenário que «resultará inevitavelmente na criação de médicos indiferenciados, sem uma especialidade médica e incapazes de prosseguir a sua formação e dessa forma prestar cuidados de saúde de qualidade». A esse propósito, adianta que há necessidade de «readequar» o número de estudantes de medicina em Portugal, reavaliar as limitações financeiras das escolas médicas e a sua influência nas condições pedagógicas e identificar e resolver restrições particulares em cada uma das instituições de ensino. O estudo, divulgado ontem no último dia do Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, envolveu quase 4.000 questionários a estudantes e outros dados fornecidos pelos órgãos diretivos das escolas médicas, em anos letivos entre 2011 e 2014. |