
Todas as fórmulas substitutas do leite para os bebés e crianças com alergia às proteínas do leite de vaca (APLV) passam a ser comparticipadas a partir de dia 1 de novembro, beneficiando 95% dos que têm este problema.
Até agora, apenas as fórmulas elementares, para as crianças com APLV severa, eram comparticipadas na sequência de uma portaria de 2019, cuja alteração vai permitir alargar o apoio do Estado às fórmulas extensamente hidrolisadas.
“As fórmulas elementares passam a ser comparticipadas a 90% do valor e as fórmulas extensamente hidrolisadas terão 70% de comparticipação”, indicou, num comunicado citado pela Lusa, a Associação Nacional da Indústria de Alimentação Infantil e Nutrição Entérica e Parentérica (ANID).
Trata-se de uma medida “mais justa”, considerou a médica imunoalergologista, Sofia Luz, assinalando que o apoio “abrange a partir de agora todas as crianças com alergias alimentares a leite em vez de contemplar apenas 5% dos bebés com APLV”.
Em declarações à Lusa, a especialista referiu que a APLV é a alergia alimentar “mais frequente” nas crianças até aos cinco anos, assinalando que, apesar de ter um “bom prognóstico”, já que ao longo da vida 80% das crianças alérgicas ao leite deixam de o ser, é muitíssimo grave quando se tem”, porque se corre “risco de morte”.
“Não há muitas doenças no mundo com um risco de morte em minutos”, como acontece com uma reação alérgica, “daí estas crianças serem portadoras de canetas de adrenalina”.
Estima-se que, em Portugal, 8% das crianças e 5% dos adultos sofram de alergias alimentares, condição que tem “vindo a aumentar cada vez mais” nos países desenvolvidos.
Considerando que existe “uma lacuna gigante em Portugal” ao nível da literacia em saúde, a médica também dá, gratuitamente e “com o maior prazer”, formação na área da alergia alimentar nas escolas.
“Em Portugal, neste momento, ainda é quase tudo a mesma coisa para a maioria da população ser intolerante a leite ou ser alérgico”, mas “a verdade é que um intolerante é só uma pessoa que vai ficar mal disposta, porque digere mal a lactose, que é o açúcar, e o alérgico tem uma reação imunológica, o corpo luta contra uma proteína do leite” e a reação “até pode ser ligeira, mas rapidamente escalar para uma reação grave de morte”.
Em relação às alterações à portaria que entram em vigor no dia 01 de novembro, a médica adiantou que, além da referida, a prescrição das fórmulas deixa de estar limitada aos pediatras do Serviço Nacional de Saúde e passa a poder ser feita por especialistas em Imunoalergologia e médicos que trabalhem em hospitais privados.