Francisco George elege legionella como maior susto em 12 anos à frente da DGS
14 de setembro de 2017 O diretor-geral da Saúde, que deixa o cargo em outubro, esteve para encerrar a Quinta do Lago por causa de um mosquito, passou pela gripe A e pela ameaça do Ébola, mas foi a legionella que lhe tirou o sono. Ao fim de uma dúzia de anos como diretor-geral da Saúde, Francisco George deixa a administração pública e termina uma carreira de 44 anos ao serviço de um Estado que, acredita, é hoje muito melhor. Em entrevista à agência “Lusa”, recordou que entrou na DGS em 2000, para «dar um impulso na saúde ambiental». Hoje, é o mais antigo funcionário deste organismo onde, aliás, tinha começado a sua carreira, em 1975. Desde 2000, viu passar oito ministros da Saúde, alguns dos quais seus amigos e companheiros dos primeiros tempos de escola e de exercício da Medicina. Não sabe indicar qual o melhor, mas acredita que um dia fará uma grelha que culminará nessa eleição. Enquanto Autoridade de Saúde foi chamado a decidir em várias situações, mas Francisco George não tem dúvidas de que foi o surto de legionella, em Vila Franca de Xira, em 2014, responsável por 11 mortos, que lhe tirou o sono. «Foram mais de 400 doentes, quase metade teve de ser assistida em cuidados intensivos. Percebemos, e demos uma lição a todos, que Portugal tem um Serviço Nacional de Saúde (SNS) fantástico», disse. Segundo Francisco George, os resultados foram também «muito positivos» na investigação da fonte do problema, que «era a principal preocupação». «Ao fim de poucas horas foi possível perceber o que se estava a passar, encerrar, do segundo para o terceiro dia, a fábrica que estava a emitir as partículas contaminadas com essa bactéria», disse. Para Francisco George, «foi uma situação muito grave que mobilizou todos os meios e teve um grande apoio político»: «Conseguimos, ao fim de 15 dias, declarar o fim da epidemia». Uma das primeiras preocupações enquanto DGS deu-se no “pico” do verão de 2004, no Algarve, com um alerta vindo da Irlanda de que dois cidadãos daquele país apresentavam encefalite após estadia em Portugal e que o agente suspeito era o vírus do Nilo. «Tivemos de demonstrar que os mosquitos estavam infetados. Fizemos o cálculo do número de picadas de mosquito preciso para provocar um caso de doença e fomos ver quem podia ter 500 picadas. Concluímos que são os que observam a natureza, nos postos de observação de aves. Os irlandeses em causa tinham, de facto, estado num posto de observação de aves ao fim da tarde e tinham sido martirizados por mosquitos». O posto foi encerrado e, mais tarde, a Quinta do Lago era identificada como local da infeção, o que obrigou ao uso de inseticidas, mesmo contra a vontade do então organismo que tinha a tutela das culturas e proteção vegetal. «Tomei a atitude de usarmos os inseticidas para proteção humana. A proteção vegetal é muito importante, mas neste caso estava em causa a proteção humana», disse. Numa ação que contou com «um grande apoio de Luís Filipe Pereira», na altura ministro da Saúde, a situação foi resolvida sem o fecho da Quinta do Lago, o qual esteve eminente. A ameaça do bioterrorismo e do “pó branco”, a pandemia de gripe A, o susto do dengue, os casos sempre alarmantes de meningite, a tosse convulsa, a hepatite A e o sarampo foram alvo da política de saúde pública nos últimos anos e contaram com decisões, nem sempre fáceis, de Francisco George. |