Franklim Marques: “o Estado usa mas não valoriza” os farmacêuticos 1663

O presidente da Secção Regional Norte da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Franklim Marques, que já tinha anunciado a sua intenção de se candidatar a bastonário, defende uma maior valorização do trabalho destes profissionais e uma aproximação das farmácias aos cuidados primários.

Em entrevista à agência Lusa, Franklim Marques aponta a multidisciplinariedade da atividade farmacêutica como a grande mais valia.

“A rede é muito capilar e tem um papel muito importante no apoio a toda a população”, refere, acrescentando que a suspensão da atividade não urgente causada pela pandemia, levou muitos doentes crónicos a procurarem “apoio para as suas dúvidas nas farmácias”.

“Não imagina os doentes crónicos que se viu sem renovação da terapêutica. O susto que estes doentes apanharam… e iam para as farmácias desesperados. Muito pouca gente assistiu”, explicou Franklim Marques.

O presidente da Secção Regional Norte da OF acrescentou ainda que considera que “o Estado usa mas não valoriza” o trabalho dos farmacêuticos e que todos ganhavam com um melhor aproveitamento do know how destes profissionais.

“Aquilo de que se sentiu falta na pandemia, muito estaria minorado se muitos serviços propostos há anos atrás, e nos quais temos vindo a trabalhar dai até então, estivessem implementados”, indicou.

Aliás, Franklim Marques defende que deve existir uma ligação mais efetiva da farmácia aos centros de saúde.

“É um caminho que tem de ser percorrido. Se não aproveitarmos agora, com a pandemia, vamos perder uma oportunidade única”, reforçando que os farmacêuticos “são muito mais do que dispensadores de medicamentos”.

“A nossa profissão é científica, não é só técnica. Ao não valorizar a relação com o doente estamos a transformar a profissão numa profissão meramente técnica”, acrescentou.

Franklim Marques defende que o instrumento de trabalho dos farmacêuticos é o medicamento e que a grande mais valia destes profissionais é também a capacidade de monitorização do efeito e eficácia dos fármacos.

“A prescrição é sempre médica, mas os farmacêuticos podem, num momento de colaboração, intervir nesse processo. Poucos têm a qualidade científica que nós temos. Não estão a aproveitar o que sabemos. É um desperdício”, defende.

Para que potencial do farmacêutico seja aproveitado, Franklim Marques defende a necessidade de mais recursos, mostrando-se “esperançoso” na abertura de vagas para a residência farmacêutica, que se espera avançar no início do próximo ano.

Lembrar que Franklim Marques é também membro do Conselho de Cooperação da Ordem dos Farmacêuticos de Portugal, presidente da Academia de Ciências Farmacêuticos de Portugal, da Associação Europeia de Farmacêuticos Especialistas em Medicina Laboratorial e Genética Humana, e membro do Conselho Consultivo da Autoridade Antidopagem de Portugal.