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Greve: Enfermeiros acusam Ministério de preparar «mistificação de dados»

26 de setembro de 2014

O presidente do Sindicato dos Enfermeiros afirmou que o Ministério da Saúde se prepara para apresentar uma «mistificação de dados» sobre a adesão à greve nacional de dois dias destes profissionais.

«O Ministério prepara uma mistificação de dados. Uma mistificação está a ser montada relativamente às greves», disse José Carlos Martins no discurso que dirigiu aos colegas enfermeiros que ontem se concentraram em protesto junto ao Ministério, uma ação que coincidiu com o segundo dia de paralisação nacional.

O presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) alega que os enfermeiros que cumpriram serviços mínimos e fizeram greve serão contabilizados como não tendo aderido, uma vez que são obrigados a registar-se no controlo biométrico (registo de presenças).

«Quem fez greve e esteve em serviços mínimos não vai contar como estando a fazer greve», resumiu.

Contactado pela agência “Lusa”, o Ministério da Saúde escusou-se a fazer qualquer comentário sobre o tema.

Na quarta-feira, primeiro dia de paralisação dos enfermeiros, o Ministério da Saúde classificou como «fantasiosos» os números de adesão avançados pelo Sindicato, que apontam para cerca de 80% de adesão.

Numa declaração escrita enviada então à “Lusa”, o Ministério de Paulo Macedo indica que só será possível fazer um balanço da greve dos enfermeiros com o processamento de salários.

Contudo, adianta que, «como sempre se verifica posteriormente, os números apresentados pelo sindicato que convocou a greve são fantasiosos».

Sobre os «números fantasiosos» referidos pelo Ministério, o SEP sugere que o ministro Paulo Macedo dê orientações aos organismos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para divulgarem, nos seus site, os números dos enfermeiros escalados e os que aderiram, por turno, à greve.

Governo usa «manipulação e mentira» para pôr em causa luta dos enfermeiros – CGTP

O líder da CGTP, Arménio Carlos, acusou ontem o Ministério da Saúde de manipular e mentir para «pôr em causa» a greve nacional dos enfermeiros por temer a luta destes profissionais.

Arménio Carlos juntou-se ontem, pelas 13:30, ao protesto do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que juntou centenas de profissionais frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa.

«O Ministério da Saúde procura, pela via da manipulação e da mentira, pôr em causa os objetivos da vossa luta», afirmou o secretário-geral da central sindical no discurso que dirigiu aos enfermeiros.

Para Arménio Carlos, o Governo «tem medo da luta dos enfermeiros» por considerar que«pode pôr em causa a vida» do Executivo.

«Precisamos de uma nova política e de um novo Governo», comentou, sendo acompanhando pelos enfermeiros, que gritavam «Demissão, demissão, demissão».

Também a deputada do PCP Carla Cruz participou na concentração dos enfermeiros, considerando a greve «justíssima» no quadro de uma situação profissional «muito complexa».

«O Governo não abre concursos para enfermeiros em número suficiente. As reivindicações são justíssimas», afirmou à agência “Lusa” a deputada comunista, sublinhando ainda a «muito boa adesão» à paralisação.

Os dados do Sindicato apontam ainda para uma adesão média de 83,5% na quarta-feira, primeiro dia de paralisação.

«Macedo escuta / os enfermeiros estão em luta» e «Enfermagem unida / jamais será vencida» são algumas das frases mais gritadas pelos enfermeiros concentrados junto ao Ministério, num protesto ruidoso e repleto de bandeiras do SEP.

No início do protesto, que começou pelas 12:30, alguns enfermeiros deitaram-se no chão na estrada, tentando demonstrar a exaustão que estes profissionais dizem sentir.

Segundo o presidente do Sindicato, José Carlos Martins, cerca de 600 enfermeiros terão participado na concentração, a avaliar pelos 400 profissionais de fora da Grande Lisboa que terão sido transportados de autocarro.

Oficialmente, a PSP não indicou estimativas de números dos presentes no protesto.

Sobre um dos motivos centrais da greve nacional de dois dias, o SEP tem dito que «a grave carência de enfermeiros em todas as instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não se minimiza com a contratação de apenas mais 700 enfermeiros, em 2015, além dos mil já anunciados a 18 de setembro».

Numa reação a estas declarações, o Ministério da Saúde veio lamentar o que considera ser a «banalização da greve», sublinhando ainda ter-se comprometido com a «autorização de contratação de mais de 1.700 enfermeiros no período de outubro de 2014 a outubro de 2015».

Além da contratação de mais enfermeiros, o SEP exige uma valorização da profissão, as 35 horas semanais de trabalho para todos, a progressão na carreira e a reposição do valor das horas suplementares e noturnas.