A ideia de que as pessoas mais velhas não são sexualmente ativas ou são todas heterossexuais é um mito, sendo importante respeitar o género e nome escolhido e criar espaços acolhedores, seja nos serviços de saúde ou em lares.
Estas e outras recomendações fazem parte de um guia para profissionais de saúde e cuidadores sobre envelhecimento de pessoas LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Queer, Intersexo), que é apresentado hoje, em Coimbra, no mesmo dia em que se assinala o Dia Internacional das Pessoas Idosas e o Dia Nacional do Idoso.
O guia salienta que “existem muitos preconceitos acerca das pessoas mais velhas, especialmente no que diz respeito à sexualidade, orientação sexual e identidade de género”.
“Por exemplo, existe a ideia de que as pessoas mais velhas não têm sexualidade; que são todas heterossexuais ou cisgénero [pessoas que se identificam com o género com o qual nasceram]; que as questões relacionadas com diversidade sexual ou de género desaparecem com o envelhecimento”, lê-se no documento, citado pela Lusa.
Concretamente nas recomendações feitas aos vários profissionais, é sugerido que haja uma linguagem inclusiva e acessível, que respeite a diversidade, o género e o nome que a pessoa idosa utiliza para se identificar, “mesmo quando não há concordância com o que é indicado nos documentos de identificação”, que aprendam o significado de palavras como “cisgénero” ou a diferença entre “bissexual” e “lésbica”.
Salienta que “a forma como os espaços são organizados e decorados é fundamental na criação de relações de confiança entre pessoas LGBTQ+ mais velhas e profissionais ou cuidadores/as”.
“É crucial garantir que a privacidade e o respeito das informações confidenciais sejam mantidas nos secretariados ou nas salas de espera. Também será importante oferecer às pessoas a possibilidade de escolher a casa de banho ou a unidade de atendimento onde se sentem mais confortáveis”, recomenda.
Aponta que algumas pessoas poderão sentir desconforto ou medo de expor o próprio corpo nos cuidados pessoais, higiénicos e corporais, pelo facto de poderem ter traumas acumulados ou violências sofridas, pelo que “é fundamental perguntar previamente quais as práticas com que se sentem confortáveis e oferecer alternativas”.
Defende, por outro lado, que o cuidado destas pessoas requer “conhecimentos acrescidos, atualizados e adequados” e alerta que “a falta de formação e sensibilização sobre o tema causa danos individuais e sociais inestimáveis”.
Razões por que o guia aponta para a necessidade de formação dos profissionais de saúde ou cuidadores sobre questões LGBTQI+ no geral, mas também sobre as especificidades das pessoas idosas, propondo encontros com ativistas, sessões formativas ou a partilha de recursos nos locais de trabalho.
“A formação vai resultar em melhores cuidados para as pessoas LGBTQ+, mas também em melhores serviços para toda a população idosa, uma vez que ajudará a preparar as profissões de saúde e os/as cuidadores/as para lidarem com realidades cada vez mais diversas”, defende.
O guia destaca que nos últimos anos houve mudanças importantes em matéria de envelhecimento, mas salienta que “existem ainda algumas limitações no acesso a processos médicos de fundamental importância em idade avançada” como os rastreios preventivos para doenças do útero e da próstata, “frequentemente interditos a pessoas trans”.
Este guia apresenta-se como “um recurso fundamental para todas as pessoas que, no dia-a-dia, trabalham e lidam com pessoas acima dos 60 anos, sobretudo na área da saúde e do cuidado” e junta experiências de pessoas LGBTQI+.
O guia, da responsabilidade do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, coordenado pela socióloga Ana Cristina Santos e elaborado no âmbito do projeto REMEMBER – Vivências de Pessoas LGBTQ Idosas no Portugal Democrático (1974-2020), será apresentado no decorrer do primeiro Fórum Internacional sobre envelhecimento LGBTQI+.