“Há uma má gestão” na referenciação de doentes para cuidados paliativos 67

O presidente da Associação Nacional de Cuidados continuados (ANCC) considera que há ”má gestão” e falta de articulação na referenciação de doentes para os cuidados paliativos, contribuindo para a baixa taxa de ocupação que afeta atualmente estas unidades.

“Eu penso que há uma má gestão e uma péssima articulação na forma como se referencia os doentes. Nós atualmente temos uma taxa de ocupação entre os 50 e 80%. (…) Se a Rede [Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI] não põe doentes é porque não quer. Não põe porquê? É uma questão que não sei responder”, disse, ontem, o responsável da ANCC, José Bourdain, em declarações à agência Lusa, à margem do Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, realizado na Chamusca.

De acordo com Bourdain, as unidades de cuidados paliativos têm enfrentado uma taxa de ocupação entre os 50% e 80%, ainda que exista um número considerável de doentes referenciados que acabam por falecer antes de obter vaga, tal como divulgado pelo relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS).

Segundo o relatório, quase metade (48%) dos doentes referenciados no ano passado para unidades de paliativos contratualizadas com o setor privado ou social morreram antes de ter vaga.

José Bourdain afirmou que as unidades informam regularmente a RNCCI sobre as camas disponíveis, mas os doentes “pura e simplesmente não são encaminhados”.

“Não há falta de comunicação da nossa parte, porque nós damos informação à rede quando temos as camas vazias”, defendeu.

Por outro lado, explicou que as unidades de cuidados paliativos enfrentam “sérios prejuízos financeiros” quando a taxa de ocupação fica abaixo dos 85%, uma vez que os custos de manutenção permanecem os mesmos, independentemente do número de doentes.

“Quando a taxa de ocupação é inferior a 85% os custos são exatamente os mesmos como se as camas estivessem todas ocupadas. São custos muitos significativos que temos que suportar”. sublinhou.

O responsável da ANCC criticou os responsáveis políticos que “não ouvem os profissionais no terreno” e tomam decisões “sem o devido conhecimento” das realidades do setor.

 “Os secretários de Estado e os ministros da saúde não entendem nada destes assuntos. Não nos ouvem, não nos percebem e não se dão ao trabalho de perceber”, acusou.

Além das questões económicas, problemas antigos, como as falhas no sistema informático e a ausência de partilha de informações entre hospitais e unidades de cuidados continuados, “continuam a persistir” e “afetam a qualidade do serviço”.

“Muitas vezes um doente é encaminhado para os cuidados continuados sem raio-X e sem análises clínicas porque os hospitais não fornecem estas informações aos profissionais de saúde de cuidados continuados (…). Há uma falta de articulação em toda a envolvência hospitalar”, concluiu.

Na iniciativa, a ANCC propôs a criação de um grupo de trabalho entre o Governo e os representantes das Unidades de Cuidados Integrados para avaliar “os custos dos recursos humanos e os custos com bens e serviços” para dessa forma resolver o “problema de subfinanciamento” que afeta atualmente o setor.

Esta proposta foi apresentada no 1.º Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, organizada pela Associação Nacional dos Cuidados Continuados para celebrar os 17 Anos da Rede Nacional.

Sob o tema “O Presente e o Futuro dos Cuidados Continuados, o programa do evento incluiu a apresentação do atual ponto de situação da Rede Nacional dos Cuidados Continuados e um estudo da Faculdade do Porto.