Hepatite C: Insuficientes renais continuam sem acesso a medicamentos 602

23 de Fevereiro de 2016

Os doentes com insuficiência renal e hepatite C ainda não têm acesso a nenhum medicamento que trate o vírus. Há um ano, o Ministério da Saúde assinou um contrato com um laboratório para financiar dois fármacos inovadores, no entanto estes não podem ser tomados por doentes que fazem hemodiálise.

«O medicamento no mercado não serve todos os doentes. Os medicamentos da Abbvie permitem tratar os doentes renais, mas ainda não há comparticipação. Os medicamentos estão disponíveis por autorização especial de utilização (AUE), mas dá acesso a poucos. Estão cerca de 40 doentes a serem medicados através de AUE [mecanismo usado quando ainda não existe acordo para comparticipação]. Queremos que chegue a todos. Não é só a questão da discriminação, é terminar com o risco de contaminação, como o que aconteceu com os seis doentes infetados com hepatite C numa clínica de diálise», disse ao “DN” João Cabete, presidente da Associação Portuguesa de Insuficientes Renais. Estima-se que sejam mil doentes renais infetados com hepatite C.

Os medicamentos ombitasvir/paritaprevir/ritonavir e dasabuvir têm taxas de cura de 98%. Foram aprovados em janeiro de 2015 pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) e nessa altura a comparticipação começou a ser negociada. Mas até ao momento, sem consenso. «Temos um acordo de princípio com o INFARMEND desde o final de novembro, mas continuamos a aguardar a conclusão do processo», disse fonte do laboratório Abbvie, sem adiantar os motivos do atraso. O “DN” questionou o INFARMED, mas não recebeu resposta em tempo útil.

Ao que o “DN” apurou, o valor por tratamento (12 semanas) custa cerca de 30 mil euros, sendo que alguns doentes podem precisar de dois. Custos atualmente assumidos pelos hospitais, já que os medicamentos estão apenas disponíveis por AUE. O acordo entre o INFARMED e o laboratório, segundo o “DN”, irá permitir reduzir substancialmente o preço a pagar, além de permitir que o pagamento passe a ser feito através de uma linha de financiamento própria, à parte dos orçamentos dos hospitais, como já acontece com os medicamentos da Gilead, cujo acordo foi assinado em fevereiro de 2015.