Hospitais começaram a pedir tratamentos gratuitos para hepatite C 589

Hospitais começaram a pedir tratamentos gratuitos para hepatite C

05 de Fevereiro de 2015

O presidente do INFARMED garantiu que os hospitais portugueses começaram ontem a pedir os 100 tratamentos gratuitos para a hepatite C oferecidos pela farmacêutica Gilead e admitiu que as farmacêuticas «têm nas mãos a vida dos doentes».

Eurico Castro Alves, em entrevista no telejornal da “RTP” ontem à noite, adiantou que os tratamentos oferecidos por esta farmacêutica começaram ontem a ser pedidos pelos hospitais, depois de o INFARMED ter «demorado alguns dias» a definir «critérios muito rigorosos» para «garantir que todos os doentes tivessem acesso por igual, justo e equitativo» aos tratamentos.

«Definido esse critério, ontem mesmo, os hospitais começaram a pedir os tratamentos à Gilead e creio que alguns já terão sido entregues, os 100 gratuitos», declarou.

O presidente do INFARMED adiantou que há mais 200 tratamentos para a hepatite C oferecidos pela farmacêutica Abbvie, «em sede de ensaios clínicos de um medicamento perfeitamente equivalente», e cerca de 60, também oferecidos, pela farmacêutica Bristol-Meyrs Squibb.

Eurico Castro Alves admitiu que as farmacêuticas «têm a vida dos doentes nas mãos» e deixou um apelo público para que essas empresas aceitem «o preço que o Estado português pode paga» pelos tratamentos inovadores para a hepatite C.

«As farmacêuticas têm nas mãos delas a vida dos nossos doentes. Eu percebo que são empresas que têm expetativas, que nós respeitamos. Temos que encontrar um equilíbrio entre aquilo que é possível o Estado português pagar para tratar todos os seus doentes e as suas legítimas expetativas», disse.

Eurico Castro Alves declarou ainda que o preço justo «tem que ser encontrado urgentemente» e que se dependesse apenas de si ou do Ministério da Saúde isso já teria acontecido.

«Ninguém tem mais pressa do que o Governo e aqueles que estão a negociar. Temos tanta pressa como os doentes. Estamos solidários com eles, estamos na mesma luta», declarou, segundo a agência “Lusa”.

Sublinhando que está em causa «muito dinheiro», o presidente do INFARMED deu como exemplo os tratamentos realizados pelo Hospital de São João a quatro doentes, que tiveram um custo de aproximadamente 100 mil euros por doente e por tratamento completo.

Eurico Castro Alves referiu que um «inquérito rigoroso» realizado em maio nos hospitais permitiu identificar 13.015 doentes a precisar de tratamento.

«Multipliquemos 13.015 doentes, que são aqueles que precisam de tratamento, por 100 mil euros cada um. Estamos a falar de muito dinheiro. O que é preciso é arranjar maneira de poder pagar o preço justo», disse, já depois de ter afirmado que «não podem morrer doentes por falta de tratamento».

Sobre o caso da doente que morreu no Hospital de Santa Maria, alegadamente por falta de tratamento com o medicamento inovador que está a ser negociado com a Gilead, o presidente do INFARMED disse não ter «conhecimento oficial» sobre se foi dada autorização para o tratamento para esta doente, frisando que as autorizações são concedidas num prazo de 13 dias, sempre que sejam cumpridos os critérios, mas sem que se conheça a identidade dos pacientes.

Eurico Castro Alves disse que «falta esclarecer se foi por falta de tratamento» que morreu a paciente e que «o mais prudente» é esperar pelos resultados dos inquéritos que estão a ser feitos.