Hospitais de Coimbra apostam no aumento dos transplantes hepáticos 12 de Novembro de 2015 A unidade de transplantes hepáticos pediátricos e de adultos do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) anunciou ontem que redobrou o recurso a soluções técnicas «mais complexas» para aumentar a resposta aos doentes em espera. Estas técnicas permitem «maximizar o número de doentes transplantados», disse o coordenador daquela unidade, Emanuel Furtado, numa conferência de imprensa em que também foi revelado que o CHUC «está preparado» para o programa de bipartição hepática, com um dador e dois recetores de fígado. Na presença do presidente do conselho de administração do complexo hospitalar público de Coimbra, José Martins Nunes, o mesmo responsável frisou o dever da sua equipa de reforçar «a possibilidade de salvação de mais alguns doentes», face a uma realidade do país e do mundo em que «não existem disponíveis órgãos suficientes» para todas as pessoas que deles necessitam. Emanuel Furtado falava aos jornalistas, no CHUC, a propósito da reativação dos transplantes com dador vivo, programa que esteve interrompido alguns anos, e do reinício do transplante em dominó, que coincidem com a comemoração dos 20 anos do primeiro transplante sequencial em dominó feito no mundo, da responsabilidade do seu pai, Alexandre Linhares Furtado. Em 26 de outubro de 1995, o cirurgião Linhares Furtado, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, efetuou «o primeiro transplante hepático sequencial a nível mundial», utilizando «um fígado colhido inteiro de um dador vivo», segundo uma nota distribuída aos jornalistas. Esta e outras técnicas mais complexas «constituem forma de aumentar a capacidade de resposta, contribuindo para reduzir o crónico défice de órgãos para transplante, sempre insuficientes para fazer face ao aumento das necessidades». Idealizada e aplicada por Alexandre Linhares Furtado, a técnica de transplante hepático sequencial «permite que doentes que seriam preteridos, em relação a outros candidatos a receber um enxerto de dador cadáver, tenham a possibilidade de receber um fígado». Até 2013, foram registados no mundo 1.112 transplantes hepáticos sequenciais, realizados em 63 centros de 21 países, segundo dados do Familial Amyloidotic Polineurophathy World Transplant Registry. Nos últimos anos, não foram realizadas no CHUC as modalidades técnicas «mais complexas» de transplante de fígado: transplante sequencial e dador vivo, desde 2008, e transplante hepático pediátrico, desde 2011. «Os transplantes são uma área estratégica do CHUC», disse José Martins Nunes, numa sessão em que também interveio Ana Calvão, coordenadora do Gabinete Coordenador de Colheita e Transplantação da unidade hospitalar de Coimbra. Esta história «começou há 46 anos» com Linhares Furtado, a 20 de julho de 1969, «no mesmo dia em que o homem chegou à Lua», enfatizou. Nos próximos anos, o CHUC pretende «retomar e utilizar regularmente, sempre que a qualidade do enxerto e as características dos recetores o permitam», a técnica de split, envolvendo o transplante de um enxerto em dois recetores, o que permitirá «maximizar o aproveitamento» dos enxertos. Questionado pela agência “Lusa” sobre o tráfico de órgãos humanos, confirmado em vários países, Emanuel Furtado disse que não ter conhecimento de que este problema alguma vez se tenha verificado em Portugal. «E não vejo grandes condições para que venha a existir», sublinhou o cirurgião. |