Hospitais eliminaram 1.650 camas nos últimos quatro anos 05-Fev-2014 Os hospitais do SNS terminaram 2013 com menos 1.648 camas do que as que estavam instaladas há quatro anos, o cenário que serviu de base no estudo prévio à reforma hospitalar, reorganização que aguarda a assinatura de planos estratégicos que vão levar as unidades a rever a carteira de serviços a nível nacional. Uma eventual descoordenação na desativação de camas, com a lotação dos hospitais sujeita a mais flutuações nos últimos meses devido à carência de pessoal, era ontem uma das possibilidades admitidas ao “i” por fontes dos hospitais do Norte para a transferência de um jovem de 20 anos que sofreu um acidente de viação no sábado em Chaves e acabou por só ser internado em Lisboa, segundo o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, que não tinha a especialidade de neurocirurgia necessária, por incapacidade de resposta nos hospitais vizinhos. O caso é contudo encarado como «pontual», uma vez que as camas de cuidados intensivos, de que o doente precisava, são menos afetadas por ajustes pontuais. «Habitualmente há uma margem de resposta precisamente para situações de pico. São camas que nunca estão na lotação máxima», disse um gestor ao “i”. O “i” procurou esclarecimentos junto da Administração Regional do Norte, que ontem garantiu ter aberto um inquérito sobre o caso, sobre quantas camas de cuidados intensivos encerraram na região e sobretudo nos hospitais de fim de linha, para os quais o doente teria de ser encaminhado por necessitar de cuidados de neurocirurgia disponíveis apenas nas unidades de Braga e, no Porto, em São João e Santo António. O gabinete informou não ser possível fornecer ontem resposta, dado o presidente da ARS estar em reuniões e visitas. Já o Ministério da Saúde, também questionado, indicou não ser possível fornecer resposta em tempo útil sobre redução da lotação. Não respondeu também por que motivo não houve contactos com unidades privadas que pudessem ter a valência necessária ou com o hospital de Vigo, algo reclamado pela família. Com a transferência para Lisboa, de ambulância, o jovem só foi internado no serviço necessário mais de seis horas após ter sido socorrido. Os dados públicos, quer no relatório da reforma hospitalar elaborado em 2011 quer na última atualização no site da ACSS, permitem perceber que a maior redução de camas nos últimos quatro anos aconteceu na região de Lisboa, onde se passou de 8.601 nesse ano para 7.703 no final de 2013 (-10,5%). Segue-se a quebra na região Centro, que terminou 2013 com uma lotação de 4832 camas (-7%). Depois surge o Norte (-5,4%). Na região do Algarve, a lotação aumentou em cerca de 80 camas, uma subida de 10%. Embora os dados não permitam perceber se fecharam camas de cuidados intensivos, fontes hospitalares dizem que isso pontualmente tem acontecido e que tem havido uma limitação de internamento, por exemplo com a integração do Hospital Joaquim Urbano e do Hospital Maria Pia nas instalações do Hospital de Santo António sem que tenha aberta o Centro Materno Infantil do Norte, cuja inauguração está prevista para este trimestre. A mesma fonte diz que estes encerramentos têm vindo a acontecer sem que seja conhecido um plano estratégico e são decisões locais. O “i” tentou perceber como se garante que estão operacionais as redes de referenciação de doentes, que estipulam para onde devem ser encaminhados os utentes perante situações mais complexas como cuidados de neurocirurgia, se os hospitais não têm de pedir autorização para fechar camas. Nem a ARS nem a tutela responderam ontem como existe essa garantia. O caso, que já motivou pedidos de esclarecimentos do autarca de Chaves, permanece com contornos pouco claros. Ontem, em comunicado à “Lusa”, o Hospital de Braga disse não ter sido contactado pelo CHTAD. Ao “i”, a Entidade Reguladora da Saúde disse ontem estar a averiguar o caso. |