Hospital Garcia de Orta considera «alarmismo desnecessário» denúncia de situações graves 599

Hospital Garcia de Orta considera «alarmismo desnecessário» denúncia de situações graves

30 de julho de 2014

O conselho de administração do Hospital Garcia de Orta considerou ontem que está a gerar um «alarmismo desnecessário» o documento de 40 diretores de serviço, sobre situações graves na unidade hospitalar de Almada.

Em nota enviada à agência “Lusa”, a direção do hospital diz que as «situações ou problemas graves não correspondem à realidade» da instituição, causando «alarmismo desnecessário».

A administração refere que o Hospital Garcia de Orta, «mercê de todo o esforço dos profissionais, fez um grande esforço nos últimos anos para melhorar a eficiência e a qualidade».

Sublinhou ainda que «o sistema de qualidade foi reconhecido internacionalmente» e acentuou que a «eficiência passou de uma situação deficitária para uma situação de superavit».

«Com a ajuda do Ministério da Saúde foi já possível amortizar a maior parte da dívida acumulada e encurtar os prazos de pagamento», lê-se na nota enviada à imprensa, acrescentando a administração do hospital que se está a «encontrar algumas soluções para resolver os problemas ao nível dos recursos humanos».

«Devido à limitação dos recursos públicos, não temos conseguido que a atividade do Hospital seja totalmente financiada, o que se traduz de facto em algumas dificuldades, designadamente, ao nível da renovação e manutenção das infraestruturas e do parque tecnológico, mas estamos com o Ministério da Saúde a tentar encontrar soluções».

Em documento a que a “Lusa” teve acesso, 42 diretores de serviço do Hospital Garcia de Orta denunciaram situações graves na instituição, como o adiamento de cirurgias, consultas e exames por falta de profissionais e equipamentos ultrapassados.

Os diretores representam a Comissão Médica do Hospital Garcia de Orta e o documento foi enviado para o Ministério da Saúde, a Ordem dos Médicos e grupos parlamentares da Assembleia da República, entre outros.

Os médicos salientam «a saída de muitos médicos e enfermeiros do hospital» e referem «o impedimento da ação gestionária do conselho de administração e das estruturas intermédias de gestão do hospital, por via da centralização administrativa, no que concerne a políticas de recursos humanos e compras».

Por isso, consideram que tal «afetará gravemente a prossecução da missão do Hospital Garcia de Orta e da sua atividade assistencial».

Outra preocupação destes chefes de serviço – entre os quais a ex-ministra da Saúde Ana Jorge – prende-se com o estado dos equipamentos médicos, «em muitos casos completamente obsolescentes e com necessidade de substituição ou modernização urgente».

«Existem casos gritantes, como o da pediatria médica, com incubadoras, ventiladores mecânicos e monitores com 20 anos de uso, que pese embora ainda funcionantes, têm taxas de operacionalidade que comprometem a qualidade dos cuidados prestados», refere a comissão no documento.

Autarca: Situação do Garcia de Orta prova necessidade do novo hospital

A vice-presidente da Câmara do Seixal disse à agência “Lusa” que a tomada de posição de diretores de serviço do Hospital Garcia de Orta, em Almada, mostra a «realidade que se vive», defendendo a construção de um hospital complementar.

«Esta tomada de posição dos diretores de serviço vem trazer para a realidade as muitas dificuldades que se vivem no Garcia de Orta. Tudo o que disseram não é uma novidade para nós e vem dar força à necessidade de se construir um hospital complementar no Seixal», afirmou a vice-presidente da Câmara do Seixal, Corália Loureiro.

A autarca explicou que o Hospital Garcia de Orta, em Almada, foi construído para servir um universo de 150 mil pessoas e que serve mais de 400 mil pessoas.

«Não é remediar, ampliar ou colocar mais médicos que resolve os problemas. É necessário e foi considerado uma prioridade, no governo da ministra Ana Jorge, uma das subescritoras do documento, construir o novo hospital complementar do Seixal», salientou.

Corália Loureiro disse ainda que o facto de o Hospital Garcia de Orta ter passado a ser a referência para os centros hospitalares de Setúbal e Barreiro trouxe mais problemas.

«O novo hospital é uma luta do Seixal, mas também dos municípios de Almada e Seixal. Esta situação é prejudicial para toda a Península de Setúbal, pois a luta que temos travado não é por capricho, é por necessidade», defendeu.

A autarca deixou também críticas ao ministro da Saúde, Paulo Macedo: «Temos uma reunião pedida desde dezembro de 2013 e não temos resposta. É uma falta de respeito».

ARS de Lisboa e Vale do Tejo garante que Garcia de Orta tem «todas as condições»

A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) garantiu ontem que estão asseguradas «todas as condições» que permitem ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, manter «os cuidados adequados à população».

«Impõe-se neste momento uma palavra de tranquilização a todos os utentes do hospital, já que se encontram asseguradas todas as condições que permitem a esta unidade de saúde manter os cuidados adequados à população que serve», referiu a ARSLVT, numa resposta enviada à agência “Lusa” sobre o documento de mais de 40 diretores de serviço, que denuncia situações graves naquela unidade hospitalar de Almada.

A ARSLVT apelou a todos os profissionais de saúde para que «deem o melhor de si, de forma a assegurar a melhor resposta aos seus utentes», no contexto particularmente complexo que o país atravessa.

Na nota, a ARSLVT adiantou ainda que vai continuar a acompanhar a situação dos hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo, «em articulação com os respetivos conselhos de administração».