
A propósito do Dia de Sensibilização para o Cancro Anal, que se assinala anualmente a 21 de março, a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) alerta para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do vírus do papiloma humano (HPV), responsável por 84% dos casos de cancro anal.
“Entre 2018 e 2021, segundo os dados do Registo Nacional, o número de casos de cancro em Portugal tem vindo a aumentar e só o HPV é responsável por 5% dos cancros no geral e a 10% dos cancros na mulher. Além disto, é uma infeção sexualmente transmissível extremamente comum, com a qual 75 a 80% das pessoas têm contacto em alguma altura das suas vidas”, explica Vítor Veloso, presidente da LPCC, em comunicado, acrescentando que “é urgente garantir que a nossa população está protegida, nomeadamente através da vacinação contra o HPV, a forma de prevenção primária mais eficaz para atuar na raiz do problema. Em Portugal, apesar de termos vindo a percorrer um caminho de sucesso, podemos fazer mais e melhor neste sentido”.
O HPV é responsável por 95% dos cancros do colo do útero, 91% dos cancros do ânus, 90% dos condilomas genitais, 75% dos cancros da vagina, 70% dos cancros da orofaringe, 69% dos cancros da vulva e 63% dos cancros do pénis.
Cobertura vacinal
Em Portugal, os dados mais recentes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apontam que, em 2023, a cobertura vacinal contra o HPV até aos 15 anos atingiu os 91%.
Ainda assim, “continua a ser imperativo informar a população sobre os riscos associados à infeção pelo HPV, uma vez que as doenças associadas a este vírus não descriminam género, nem escolhem idade, mas não só. É fundamental que a vacinação seja alargada a todos os jovens, rapazes e raparigas, mas também às franjas da população mais vulneráveis, com doenças associadas e outros grupos de risco, como homens que fazem sexo com outros homens”, frisa o presidente da LPCC.
A vacina contra o HPV faz parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV) desde 2008, sendo atualmente disponibilizada de forma gratuita a raparigas e a rapazes, aos 10 anos, num esquema de duas doses semestrais.
Tumores do ânus
São relativamente raros, mas a sua incidência tem vindo a aumentar, sendo mais frequentes em mulheres do que em homens, no geral, mas sendo o grupo de incidência mais elevada os homens que têm sexo com homens.
Os fatores de risco com maior impacto são a infeção por tipos de HPV de alto risco, em particular o 16 e 18, e a infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH). A prática de sexo anal, múltiplos parceiros sexuais, história prévia de doença por HPV no companheiro ou companheira, tabagismo e fístulas anais crónicas, são também fatores de risco a registar.
Sintomas e diagnóstico
As lesões iniciais podem não provocar qualquer sintoma, pelo que a presença de sintomas, como prurido ou ardor, dor, hemorragia e, nas fases mais avançadas, impossibilidade de controlar a saída das fezes, deve ser sinal de alarme.
O diagnóstico é realizado através da observação e toque retal, podendo ser indispensável uma anuscopia ou proctoscopia (exame endoscópico), que permitirá fazer uma biopsia a qualquer lesão. “A prevenção é, indiscutivelmente, a melhor estratégia.
O uso de preservativo permite uma proteção considerável e é aconselhável, mas não é a única forma de prevenção. Por isso mesmo, “é essencial que todos estejam cientes das formas de prevenir a infeção pelo HPV e do impacto que isto pode ter na saúde anal de cada um”, reforça Vítor Veloso.