I Jornadas de Farmácia Comunitária: Impulso para a mudança 1551

O papel crescente que as farmácias comunitárias desempenham no sistema de Saúde, a emergência das novas tecnologias e as tendências nos autocuidados «obrigam-nos a acompanhar a evolução para garantir que todos estejamos preparados e aptos para assistir à população no futuro», defendeu Carolina Mosca.

O panorama global da Farmácia Comunitária «está em constante evolução», referiu Carolina Mosca, presidente do Conselho do Colégio de Especialidade de Farmácia Comunitária da Ordem dos Farmacêuticos na sessão de abertura das I Jornadas de Farmácia Comunitárias, realizadas entre 15 e 16 de outubro em formato online. Designadamente, a emergência das novas tecnologias e os digital players, as tendências nos autocuidados e o papel crescente que as farmácias comunitárias desempenham nos cuidados de saúde primários, «obrigam-nos a acompanhar essa mesma evolução para garantir que todos estejamos preparados e aptos para assistir à população no futuro».

Nesse contexto, a presidente do Colégio defende que «é fundamental existir um rácio de farmacêuticos por farmácia, de modo a impulsionar a implementação de serviços farmacêuticos adicionais e de melhor cuidado para o utente». Designadamente, a renovação da terapêutica crónica, revisão da medicação, acompanhamento fármaco-terapêutico, reconciliação da terapêutica, preparação individualizada da medição, teleacompanhamento dos utentes, ações de literacia em saúde, acompanhamento do utente com medicação hospitalar (em colaboração com os farmacêuticos hospitalares), «são determinantes para a valorização do farmacêutico na farmácia comunitária».

Carolina Mosca assinalou ainda a necessidade de os jovens farmacêuticos a reconheceram «como uma área de interesse para desenvolveram com motivação o seu trabalho e não fujam da farmácia comunitária, como temos assistido nestes últimos tempos». Nesse sentido, instou os proprietários e diretores técnicos da farmácia a serem eles próprios «os impulsionadores desta mudança». Porque, assegurou, «o paradigma da Farmácia Comunitária tem de mudar».

Lembrando que o Colégio definiu como missão «promover a valorização, a capacitação e diferenciação do farmacêutico comunitário», Carolina Mosca assinalou que as I Jornadas de Farmácia Comunitária foram organizadas com o desígnio de «incentivar sua a formação».

O programa das jornadas incluiu, assim, três mesas redondas sobre atualização terapêutica no cancro colorretal, demência e dor crónica, complementadas com a discussão de casos clínicos. Em foco estiveram também temas como «a intervenção do farmacêutico comunitário no sistema de saúde», as fontes de informação e algumas ferramentas com valor acrescentado nas atividades da farmácia comunitária, e ainda a apresentação de dois pósteres, selecionados e premiados pela comissão científica das Jornadas: “Ganhar Fôlego: um serviço farmacêutico para a cessação tabágica” e “Está nos nossos corações – Intervenção farmacêutica na insuficiência cardíaca”.

Na sua intervenção, a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, agradeceu a todos os farmacêuticos comunitários que, durante a pandemia de covid-19, disseram «presente!».

«Tivemos muitas dificuldades no acesso dos cidadãos e dos portadores de doença aos cuidados de saúde. Muitos não conseguiram. Muitos ficaram para trás. Muitos morreram. Mas nenhum português ficou sem medicamentos durante o período mais difícil da pandemia. E isso deve-se quer aos farmacêuticos comunitários, quer aos farmacêuticos hospitalares e ao trabalho que, em conjunto, conseguiram fazer, vencendo todas as dificuldades e complexidades e estabelecendo um diálogo muito construtivo, muito positivo e que ficou para o futuro».

Tal como a presidente do Colégio, também a bastonária recordou que «dois terços da nossa profissão estão na farmácia comunitária. Somos a profissão mais jovem dentro dos profissionais de saúde e naturalmente que temos que acompanhar a complexidade das profissões e de interações profissionais no século XXI».

Para que os jovens farmacêuticos considerem a Farmácia Comunitária estimulante precisam, em primeiro lugar, «de ter um ensino que os dirija para esta área de fundamental importância para a profissão, uma área de proximidade onde a excelência científica se abraça à humanização e onde o digital não retira espaço, pelo contrário acrescenta possibilidades de interação».

Na perspetiva de Ana Paula Martins, é preciso que todos compreendam que a Farmácia Comunitária de ser também «um espaço onde a inovação possa fluir» e onde «os mais jovens vejam o seu futuro em termos de uma carreira profissional do século XXI».

No encerramento das I Jornadas, através de uma mensagem em vídeo, António Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, reconheceu como nos últimos meses as farmácias comunitárias «souberam reinventar-se e reorganizar-se para dar resposta às necessidades da população que inevitavelmente se alteraram» durante a pandemia.

«As farmácias comunitárias também estiveram na linha da frente do combate à pandemia provocada pela covid-19», afirmou. «Estiveram na linha da frente quando se adaptaram e reorganizaram para manter a sua atividade normal sem nunca fechar as portas. Estiveram e estão sempre lá, na realização de testes de diagnóstico da covid-19, contribuindo para que Portugal tenha hoje mais de 19 milhões de testes realizados. Estiveram na entrega de medicamentos ao domicílio, garantindo maior comodidade e segurança aos cidadãos; estiveram na venda de equipamentos de proteção individual; estiveram na linha da frente e voltam agora a estar na vacinação contra a gripe».

De acordo com o governante, «este ano as farmácias voltam a administrar 200 mil vacinas contra a gripe de um contingente de mais de 2,5 milhões».

As farmácias comunitárias «são para nós um importante parceiro estratégico que nos ajuda a garantir a capilaridade do nosso sistema de saúde, enquanto serviço de proximidade ao cidadão», reforçou.

«Estamos conscientes dos desafios permanentes que se colocam, mas hoje projetamos o futuro com uma confiança redobrada porque fomos capazes de superar aquele que terá sido o maior desafio das nossas vidas». Na opinião de António Sales, «fizemo-lo porque reconhecemos a importância do trabalho intersetorial e interinstitucional, porque fomos capazes de trabalhar juntos, lado a lado. É nossa convicção que com este tipo de envolvimento de todos, é possível encarar o caminho com esperança e otimismo. Portugal precisa da vossa força, da vossa energia, do vosso empenho, para fazermos do nosso país um lugar melhor, mais fraterno. Para que ninguém fique para trás!».

As revistas Farmácia Distribuição e Farmácia Clínica são media partners das I Jornadas de Farmácia Comunitária.