Identificado um “forte candidato” a uma nova classe de antibióticos 661

Uma equipa liderada por investigadores da Universidade McMaster, no Canadá, identificou um “forte candidato” a uma nova classe de antibióticos chamado lariocidina.

A última vez que uma nova classe de antibióticos chegou ao mercado foi há quase três décadas, mas agora, este novo medicamento que ataca as bactérias de uma forma diferente dos outros antibióticos, “poderia desafiar mesmo algumas das bactérias mais resistentes aos medicamentos”, segundo os cientistas, que publicam os seus resultados na revista Nature.

A descoberta de uma nova classe de antibióticos, que também está a ser trabalhada por outros grupos de investigação em diferentes países, responde a uma necessidade crítica de novos medicamentos antimicrobianos, uma vez que as bactérias e outros microrganismos desenvolvem novas formas de resistir aos medicamentos existentes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta é uma das principais ameaças à saúde pública a nível mundial, refere um comunicado da universidade.

“Os nossos medicamentos antigos estão a tornar-se cada vez menos eficazes à medida que as bactérias se tornam mais resistentes a eles”, afirma Gerry Wright, que liderou a equipa.

Cerca de 4,5 milhões de pessoas morrem todos os anos devido a infeções resistentes a antibióticos e a situação só está a piorar, conclui Wright.

O investigador e a sua equipa consideraram a nova molécula “muito promissora” como uma primeira pista farmacológica porque ataca as bactérias de uma forma diferente dos outros antibióticos.

A lariocidina liga-se diretamente à síntese proteica da bactéria de uma forma completamente nova, inibindo a sua capacidade de crescimento e sobrevivência.

“Trata-se de uma nova molécula com um novo modo de ação”, resume Wright, citado pela Lusa.

A lariocidina é produzida por um tipo de bactéria chamada Paenibacillus, que os investigadores obtiveram a partir de uma amostra de solo recolhida num quintal em Hamilton, onde se situa a universidade.

A equipa deixou as bactérias do solo crescer no laboratório durante cerca de um ano e descobriu que uma das bactérias, a Paenibacillus, produzia uma nova substância que era altamente ativa contra outras bactérias, incluindo as que são frequentemente resistentes aos antibióticos.

Os cientistas também estão otimistas, uma vez que a lariocidina preenche vários requisitos, por não ser tóxica para as células humanas, não ser suscetível aos mecanismos de resistência aos antibióticos existentes e funciona bem num modelo animal de infeção.

A equipa, que também inclui cientistas da Universidade de Illinois em Chicago, nos Estados Unidos, está agora a concentrar-se em encontrar uma forma de modificar a molécula e produzi-la em quantidades suficientemente grandes para permitir o seu desenvolvimento clínico.

Wright afirma que, pelo facto de esta nova molécula ser produzida por bactérias – e “as bactérias não estão interessadas em fabricar novos medicamentos para nós” – será necessário muito tempo e muitos recursos até que a lariocidina esteja pronta para ser comercializada.

O investigador admite que o verdadeiro trabalho árduo começa agora, acrescentando que estão a trabalhar para desmontar a molécula e voltar a montá-la num candidato a medicamento melhor.

“A última vez que uma nova classe de antibióticos chegou ao mercado foi há quase três décadas, mas isso pode mudar em breve graças a esta descoberta”, refere o comunicado da universidade.