Idosos dizem ter qualidade de vida, mas queixam-se do acesso à saúde 654

Idosos dizem ter qualidade de vida, mas queixam-se do acesso à saúde

24 de Fevereiro de 2015

A maioria dos idosos inquiridos num estudo consideram que têm boa qualidade de vida, mas muitos manifestam menos satisfação no acesso à saúde e apontam a falta de atividades sociais para prevenir o isolamento.

O estudo nacional “Fatores psicossociais e profissionais promotores de qualidade de vida no processo de reforma e envelhecimento ativo” envolveu 1.330 participantes (entre os 55 e os 75 anos), a maioria residente na Grande Lisboa, mulheres e pessoas casadas.

Um quarto dos inquiridos é licenciado, cerca de um quinto tem o 1º ciclo, 20% têm o 12.º ano e cerca de metade tem atividade profissional, refere o estudo, que é apresentado amanhã, no II Congresso Nacional de Psicogerontologia, em Lisboa.

A investigação, citada pela “Lusa”, analisou a relação entre variáveis de saúde, qualidade de vida, pessoais (sentido da vida, espiritualidade e estilo cognitivo), sociais (suporte social e fatores psicossociais do trabalho) e os fatores sociodemográficos.

A coordenadora do estudo e diretora do Instituto de Psicologia e Ciências da Educação, Tânia Gaspar, disse à agência “Lusa” que «o estudo permite, na amostra estudada, caracterizar a qualidade de vida, os fatores que a influenciam e como e em que medida o fazem».

Em termos sociodemográficos, o estudo verificou que são os participantes com curso superior, casados, com casa própria, sem doença crónica e que estão reformados mas têm uma atividade profissional que revelam uma melhor qualidade de vida.

Neste leque encontram-se também os participantes com os fatores relacionados com a saúde mais positivos, nomeadamente a nível físico, psicológico, social e ambiental.

Segundo o estudo, a maioria dos inquiridos reflete «valores satisfatórios» em todas as variáveis estudadas: 56,9% afirma estar satisfeitos com a sua saúde, 57,5% com a sua qualidade de vida, 64,1% não estão «nem satisfeitos, nem insatisfeitos» com o suporte social, 66,1% estão «moderadamente» satisfeitos com os fatores psicossociais do trabalho e 63,7% estão satisfeitos com o «sentido da vida».

Alguns participantes, contudo, encontram-se insatisfeitos em relação a estes aspetos da sua vida, nomeadamente as mulheres com mais de 61 anos, os doentes crónicos, os reformados sem atividade profissional e com baixa escolaridade.

Estes dados alertam para «possíveis populações de maior risco e com necessidades específicas de intervenção», em que há «fatores protetores que devem ser otimizados e mantidos», como a família, disse Tânia Gapar.

A espiritualidade surge como uma forma de lidar com momentos mais difíceis, principalmente para as mulheres, os doentes crónicos e para os reformados sem atividade profissional.

Os reformados com atividade profissional são os participantes que revelam melhores indicadores de satisfação, o que revela que «é fundamental, após a reforma, que as pessoas mantenham uma atividade que lhes permita manterem um papel ativo na sociedade».

O estudo identificou também uma «menor satisfação» dos participantes com as respostas no acesso à saúde e atividades sociais, defendendo «um maior e melhor acesso à saúde» e a criação de estruturas promotoras de atividades sociais «com qualidade» que previnam o isolamento.

«A intervenção na promoção e qualidade de vida no processo de reforma e envelhecimento ativo» deve envolver «as pessoas, as suas famílias, a comunidade e também o poder politico».