Infeções hospitalares em Portugal matam mais do que acidentes de viação 16 de Março de 2016 As infeções hospitalares matam mais em Portugal do que os acidentes de viação, estimando-se 12 óbitos diários por esta causa, pelo que o Ministério da Saúde vai avançar no próximo ano com incentivos aos hospitais que reduzam as infeções. Estes dados foram divulgados ontem durante a apresentação do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), da Direção-Geral da Saúde. Segundo o estudo, o número de óbitos por infeções hospitalares «é muito superior ao de acidentes de viação», estimando-se que em 2014 tenham ocorrido «4.500 mortes por esta causa, com uma despesa associada de 300 milhões de euros», citou a “Lusa”. O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, destacou precisamente o aumento de mortalidade por infeções nos cuidados de saúde, sublinhando que «se morre sete vezes mais por infeções do que nos acidentes de viação». O diretor do programa, Paulo André Fernandes, confirmou que «gradualmente é um problema que tem vindo a aumentar e que tende a aumentar se não houver mobilização de esforços e recursos para que isso não aconteça». Entre esses esforços, conta-se a intenção do Ministério da Saúde avançar em 2017 com incentivos financeiros aos hospitais que consigam reduzir as infeções. Para tal, serão necessários «indicadores claros, que serão disponibilizados até junho deste ano», revelou o secretário de Estado. «No segundo semestre vamos monitorizar e a partir daí colocar objetivos para que no contrato programa de 2017 sejam implementados e, em função de serem atingidos, sejam ressarcidos os hospitais para premiar as boas praticas», acrescentou. Também Paulo André Fernandes considera que «os incentivos financeiros são um instrumento importante para que medidas sejam tomadas», já que «mais de um terço das infeções podem ser prevenidas». «O objetivo é que através do incentivo financeiro consigamos que as instituições cumpram de uma forma mais cabal todas as recomendações de boas práticas nesta área», considerou. Além dos incentivos financeiros, a tutela defende que os conselhos de administração dos hospitais e as direções clínicas estejam mais sensibilizados para a importância de administrarem de forma mais criteriosa os antibióticos (para reduzir a resistência dos microrganismos) e adotarem outras medidas recomendadas no programa, como diminuir a duração terapêutica antibiótica e não usar estes medicamentos na ausência de infeção bacteriana. «É uma área extremamente crítica para a prestação dos cuidados de saúde, temos que dar os meios para que os profissionais de saúde possam mudar praticas e reduzir infeções, prevenindo a ocorrência», acrescentou o governante. Neste âmbito, foi criado, por despacho publicado ontem, um grupo de trabalho composto pela Direção-Geral da Saúde, o Instituto Ricardo Jorge, o INFARMED e a ACSS, que deverá garantir, até final de junho deste ano, os mecanismos que permitam obter dados e indicadores, por hospital, relativos a consumo de antibióticos, resistência antimicrobiana e infeções hospitalares. Estes dados e indicadores constituem o denominado “índice de qualidade PPCIRA”, que, a partir de 2017, ficará associado à atribuição de incentivos, no âmbito dos contratos programas dos hospitais. Fernando Araújo destaca os «cinco pontos fundamentais» do despacho: «colocar na agenda política da Saúde a questão das infeções; liderança clara do processo para resultados claros; acesso a informação partilhada fidedigna, clara, credível; avaliação das medidas, monitorizar a informação e complementar com ações necessárias; associar financiamento a estas questões e premiar boas práticas». |