Infeções hospitalares permanecem elevadas apesar de campanha para lavar as mãos
06-Maio-2014
O resultado da campanha contra as infeções hospitalares é «nulo», com a percentagem de contágios a permanecer elevada, na ordem dos 11%, apesar de cada vez mais instituições de saúde aderirem à iniciativa “Medidas simples – salvam vidas”, revelou uma responsável.
Os dados constam de um balanço de cinco anos da estratégia para melhoria da higiene das mãos, apresentados ontem, Dia Mundial da Higiene das Mãos.
Segundo Elaine Pina, do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos, Portugal tem «muito mais infeção do que seria de esperar, tendo em conta os doentes que trata».
Entre 2009 – ano em que Portugal aderiu à campanha global – e 2012, a taxa de infeção hospitalar passou de 11,03 para 11,50%, o que «não é nada», disse Elaine Pina.
Para esta responsável, o resultado da campanha de higienização das mãos «é nulo» em termos de taxa de infeções hospitalares.
Segundo a “Lusa”, estes resultados, que levaram as autoridades de saúde a reconhecer a necessidade de uma alteração na estratégia, registam-se apesar do crescimento das adesões ao programa.
Ao longo de cinco anos, aderiram 107 hospitais, 63 unidades de cuidados continuados e 55 unidades de cuidados de saúde primários.
Em 2009, a taxa de adesão situava-se nos 46%, passando para 69% em 2013.
Elaine Pina sublinhou a discrepância entre alguns valores: «Só em quatro unidades a adesão é superior aos 80%, existindo unidades com pouco mais de 40% de adesão».
Ao nível dos profissionais de saúde, a taxa de adesão situava-se nos 78% nos enfermeiros, 65% dos assistentes operacionais, 57% nos médicos e 55% nos outros profissionais.
Os médicos também apresentam uma baixa percentagem de adesão à formação: 16,85%, enquanto esse valor é de 44,95% nos enfermeiros e parteiros, 38,76% nos auxiliares de ação médica e de 23,45% nos outros profissionais de saúde.
Elaine Pina manifestou-se incomodada com a utilização que é feita dos baixos níveis de adesão dos médicos à campanha de higienização das mãos e também da formação que recebem.
«Os médicos não têm a mesma disponibilidade, nem o mesmo tipo de horários, além de terem outro tipo de prioridades», frisou.
Sobre as ocasiões em que os profissionais mais lavam corretamente as mãos, lidera o momento após o risco de exposição a sangue e fluidos corporais (85%), após o contacto com o doente (79%), antes do procedimento técnico (74%), após o contacto com o ambiente envolvente do doente (66%) e antes do contacto com o doente (59%).
No final da apresentação destes indicadores, Elaine Pina defendeu «uma abordagem global».
O uso apropriado de luvas e a higienização ambiental são duas das apostas das autoridades de saúde para melhorarem a percentagem da taxa de infeção hospitalar e de resistências aos antibióticos.
O Dia Mundial da Higiene das Mãos foi instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar os profissionais de saúde e os gestores para os problemas da infeção relacionada com a falta da higienização e promover uma discussão mais ampla sobre o assunto.
Este ano, o enfoque é colocado no alerta “Sem ação hoje, não há cura amanhã – faz dos cinco momentos da OMS para a higiene das mãos parte do processo para a proteção dos doentes no combate às resistências aos antimicrobianos”.