Infeções hospitalares por bactérias multirresistentes matam três doentes por dia
27 de junho de 2018 As infeções hospitalares por bactérias multirresistentes causam três mortes por dia em Portugal, ou mais de 1.100 por ano, estimou ontem um especialista, salientando que este problema deve preocupar todos, dos profissionais aos utentes. «Números que já temos de estudos europeus e números que estão para sair nos próximos meses apontam para que, provavelmente, em Portugal, mais ou menos três pessoas por dia possam falecer por infeções por micro-organismos por bactérias multirresistentes, a nível hospitalar», afirmou o coordenador do grupo local do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) do centro hospitalar Barreiro-Montijo. Paulo André Fernandes, que falava à agência “Lusa” à margem de um encontro com jornalistas sobre este tema, transmitiu preocupação já que o problema das bactérias resistentes aos antibióticos, nas suas principais facetas, «continua a agravar-se». «Embora haja aspetos pontuais onde tenha havido evoluções positivas, há uma série de aspetos, nomeadamente os que têm a ver com as bactérias com resistências mais perigosas e resistentes a antibióticos de mais largo espetro, que continua a agravar-se», apontou o antigo diretor do PPCIRA. A má utilização dos antibióticos, nomeadamente para situações em que não são necessários ou não são os mais indicados para a doença em causa, levou a que as bactérias fiquem mais resistentes, mais fortes, reduzindo as soluções eficazes para resolver estas infeções. «Estamos a tratar muitas situações de infeção com antibióticos antigos que tínhamos deixado de usar porque são tóxicos, imprevisíveis no seu efeito e na sua acção», referiu Paulo André Fernandes. No entanto, já existem «novos antibióticos menos tóxicos, mais previsíveis e mais eficazes e precisamos que sejam libertados [em Portugal], como já aconteceu em toda a Europa e em grande parte do mundo civilizado», acrescentou. Para o especialista, justifica-se a preocupação por parte de todos os agentes da saúde e da sociedade em geral, ou seja, da tutela ao utente, passando pelos médicos e farmacêuticos. Embora também afete os pacientes que estão em casa, este problema incide no ambiente hospitalar com «particular gravidade», descreveu. É nos hospitais que «estão os agentes mais resistentes e que provocam infeções mais graves, mas é um problema transversal, incide sobre o hospital como incide na comunidade, incide sobre os mais velhos como sobre as crianças, portanto é um problema que diz respeito à comunidade em geral», realçou o médico. Grande parte das pessoas internadas nos hospitais têm doenças que diminuem a sua imunidade como é o caso dos doentes submetidos a quimioterapia ou a cirurgias muito agressivas, os internados em medicina intensiva ou os bebés grandes prematuros. Estas situações colocam os doentes internados no hospital «em situação de particular risco para estas infeções mais graves, [mas] não quer dizer que todos as contraiam», disse ainda Paulo André Fernandes. O coordenador no PPCIRA do centro hospitalar Barreiro-Montijo referiu que os hospitais «têm alguns meios e o ‘know-how’, os conhecimentos, para controlar este tipo de problema, o que acontece é que esses meios em grande dos casos são insuficientes». Recordou que a resistência aos antibióticos já é discutida a nível internacional pelos altos responsáveis políticos, encarado como um problema de saúde pública e económico. |