A infertilidade, definida como a incapacidade de um casal conceber ou levar a bom termo uma gravidez, depois de, pelo menos, um ano de relacionamento sexual regular sem qualquer proteção, afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, não existem dados concretos sobre o número de mulheres, homens ou casais inférteis, mas sabe-se que em 2015 nasceram no nosso país 2504 crianças após tratamentos de fertilidade, representando 2,9% do número total de nascimentos ocorridos nesse ano. Isto significa que, nalguns casos, é possível ultrapassar este problema e, por isso mesmo, a Associação Portuguesa de Fertilidade (APFertilidade) e Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução (SPMR) , com o apoio da Merck, aproveitam o Dia Mundial do Sonho, assinalado a 25 de setembro, para encorajar os casais portugueses a não deixarem de sonhar com a parentalidade e lançam uma campanha nesse sentido.
Pedro Xavier, Presidente da SPMR, explica que “queremos deixar uma palavra de confiança às pessoas que estão a lidar com este processo e, sobretudo, àquelas que acabaram de descobrir que têm este caminho pela frente, dizendo-lhes que é possível e que o importante é que procurem o devido acompanhamento. Queremos igualmente reforçar que, mesmo nos tempos atuais, consideramos ser seguro continuar a apoiar os casais neste percurso.”.
Existem várias intervenções possíveis. “Após uma avaliação numa primeira consulta de infertilidade, é aconselhado ao casal o tratamento mais adequado à sua situação clínica, que pode passar pela indução da ovulação, a inseminação artificial intrauterina (IIU), a fertilização in vitro (FIV), a microinjeção intracitoplasmática de espermatozoide ou a transferência de embriões criopreservados”. No que respeita às taxas de sucesso, o Presidente da SPMR, dá como exemplo os dois tratamentos mais conhecidos. “No caso da IIU, as taxas de sucesso rondam os 10 a 12% por tentativa, podendo chegar a 20% se forem utilizados espermatozoides doados. Já no caso da FIV, a taxa de sucesso depende muito da idade da mulher, mas no geral ronda os 30% por tentativa”.
Quanto às causas da infertilidade, o Presidente da SPMR, adianta que “em cerca de 30% a 40% dos casos o problema está na mulher, podendo estar associada à falência da ovulação, à obstrução das trompas, a doença do útero, muco cervical desfavorável, endometriose ou aborto de repetição. Noutros 20% a 30% de casos, o problema está no homem e pode ter como causa a diminuição do número de espermatozoides, espermatozoides com mobilidade reduzida, espermatozoides com configuração anormal ou ausência de espermatozoides. Mas há também casos nos quais o problema é uma conjugação de fatores que advêm do homem e da mulher, representando cerca de 30% dos casais inférteis, onde ambos contribuem para o problema em maior ou menor grau.” Existe ainda uma pequena percentagem de casais cujo problema é inexplicável. “São cerca de 5% a 10% dos casos, onde não se deteta qualquer razão aparente para a infertilidade.”
Apesar de o acesso aos tratamentos de fertilidade ter aumentado em Portugal nos últimos 25 anos, existe ainda um caminho a fazer. Cláudia Vieira, Presidente da APFertilidade, adianta que “o SNS continua a ter dificuldade em responder atempadamente às mulheres e casais que necessitem de recorrer a ajuda médica para terem filhos. Os tempos de espera no serviço público para um primeiro tratamento são, muitas vezes, superiores a um ano ou ano meio, sendo que a idade limite para a realização das três tentativas comparticipadas pelo Estado, fixa-se nos 40 anos embora a Associação defenda um aumento da idade da mulher para estes tratamentos”. Por isso, “apesar do projeto da parentalidade ser uma decisão que apenas ao casal diz respeito, importa procurar ajuda tão breve quanto possível, após o período dito normal para a ocorrência de uma gravidez espontânea ter sido ultrapassado sem que a mesma ocorra”.
A pandemia veio trazer a muitos casais a incerteza de procurar esta ajuda. Neste sentido, o Presidente da SPMR garante que “é seguro começar ou continuar os tratamentos. Nesta altura, todos os serviços de saúde dispõem de medidas de segurança para prevenir o contágio. Além disso, continuamos a não ter evidências de quaisquer efeitos negativos da infeção COVID-19 na gravidez. É certo que têm surgido alguns casos de mulheres que testaram positivo, mas a grande maioria deu à luz crianças saudáveis, sem qualquer sinal da doença”.
Assim, para o Dia Mundial do Sonho, a mensagem passa por não desistir. “O sonho de ter filhos é um ato de coragem e, felizmente, a medicina já evolui muito no sentido de torná-lo real. Não é um caminho fácil, é importante que os casais tenham não só uma equipa médica multidisciplinar a acompanhá-los, mas é também importante ter uma rede de suporte entre os familiares e amigos, que devem respeitar este sonho”, refere Cláudia Vieira.
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=8dAfuk0Iv58