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Inflamação hepática não alcoólica poderá ter medicamento dentro de cinco anos

10 de Julho de 2015

Um grupo de investigadores médicos norte-americanos acreditam que «dentro de cinco anos haja um medicamento que cure a galopante “epidemia” da inflamação hepática não alcoólica, disse hoje à “Lusa” um dos cientistas.

«Não existe ainda um medicamento» para a inflamação do fígado ou esteatose-hepática não alcoólica (EHNA) e, por vezes, «um novo fígado é a única opção para muitas pessoas», revelou o investigador Joel Levine.

O investigador, que dirige as especialidades de gastroenterologia, hepatologia e nutrição do Centro Médico do Hospital Pediátrico Morgan Stanley, em Nova Iorque, considerou que atualmente «os médicos têm pouco a oferecer aos pacientes com EHNA», além da recomendação para comerem menos e melhor e fazerem mais exercício.

Contudo, por ser um potencial com enorme procura, dado tratar-se de uma doença crónica – um mercado anual avaliado em 31,5 milhões de euros -, e também devido a um maior conhecimento sobre as formas pelas quais esta patologia melhora ou piora, muitas farmacêuticas estão já a testar algumas drogas, sublinhou.

Das várias possibilidades testadas sobressaiu «o ácido “obeticholic”, que tem vindo a impressionar os pesquisadores por reduzir a quantidade de cicatrizes no fígado», consequência da doença em estado grave.

Daí o especialista afiançar que se está num momento «crucial» na história do combate a esta doença hepática e que, «dentro de cinco anos, poderemos ter pelo menos um medicamento aprovado».

«A inflamação do fígado ou esteatose-hepática não alcoólica, associada à obesidade, decorre do excesso de gordura no fígado e, como o nome indica, não resulta do abuso de álcool», como se julgava antes, frisou o cientista, acrescentando que esta patologia «origina muitos casos graves» da doença conhecida como «fígado gordo», que pode «destruir o órgão e levar à necessidade de um transplante ou até mesmo à morte».

Apesar de haver propensões genéticas associadas a quem se torna obeso ou desenvolve a doença do “fígado gordo”, e com ou sem lesão das células, «as mudanças na dieta e pouco exercício são as razões para este problema», disse o especialista que é também professor e vice-presidente da especialidade de Pediatria da Universidade de Columbia, também em Nova Iorque.

O fígado funciona como um agente de trânsito para as gorduras resultantes das calorias que são consumidas, atualmente bastante acima das necessidades, referiu Joel Levine, apontando que por essa razão «o fígado começa também a armazená-las em excesso» e, nalguns casos, gera inflamação que pode levar à insuficiência hepática, ao cancro e à morte.

Trata-se de «uma “epidemia” que está inclusivamente a surgir em lugares improváveis como a Índia rural. É um problema em todo o mundo», insistiu.

Esta doença brevemente será o principal motivo para o transplante de fígado, reforçou, dizendo que a EHNA é presentemente a causa número dois para transplantes deste órgão vital, mas que provavelmente passará para número um até ao final da década, devido à nova geração de drogas antivirais para a cura da hepatite C, atualmente a maior causa de insuficiência hepática.

Durante décadas, o problema da EHNA passou despercebido, principalmente porque os médicos a confundiam com a hepatite alcoólica, que também envolve o acumular de gordura no fígado, mas esta resulta de alcoolismo prolongado, referiu o investigador.

O crescente universo de pessoas não alcoólicas que apresentavam “fígados gordos”, na década de 1980, levou à distinção pelos patologistas entre as duas inflamações: a esteatose-hepática alcoólica e a não alcoólica.

A distinção surgiu sobretudo após surgir um elevado número de crianças com o problema, algumas já com cirrose hepática, o que ajudou a dissipar quaisquer dúvidas de que a doença não estava relacionada com o consumo excessivo de álcool.