Informar ou comunicar? 2005

A comunicação à volta da pandemia que enfrentamos tem sido um assunto, naturalmente, muito debatido. Foi má, foi boa, poderia e deveria ter sido diferente?

Convém, antes de mais, lembrar que a comunicação é apenas um elemento que, por si só, raramente pode resolver algo. Aliás, na construção da identidade de uma marca a comunicação é uma importante fonte, mas é apenas uma. Outros fatores influenciam de igual modo essa construção: o produto, a história da marca, a relação estabelecida com os seus consumidores, etc.

Por outro lado, perante a situação completamente anormal que enfrentamos, é normal que apareçam erros.

Tendo tudo isto em atenção, há, no entanto, uma recomendação que ouso deixar ficar: que não se confunda informação com comunicação.

Em algumas fases deste já longo processo, as entidades deram muita informação (que é importante), mas muitas vezes comunicaram pouco. Ou seja, não envolveram o público a quem se dirigia a mensagem. Sem isso, não há comunicação. Afinal, comunicar é tão simplesmente – e tão dificilmente – pôr em comum.

Por exemplo, enviar a mesma mensagem para diferentes públicos dá, normalmente, mau resultado. Não se comunica do mesmo modo para alguém da geração X e para alguém da geração Z e não podemos esperar que uma mesma mensagem sirva para alguém que está preocupado com a atual situação – e consciente dos riscos que ela acarreta -, e para alguém que acha que isto é apenas uma gripe.

Públicos diferentes exigem mensagens diferentes e até canais diferentes para chegar até eles. Basta pensar que, para certos públicos, seria muito mais eficaz usar o Instagram de um influencer do que anúncios na TV ou na Imprensa. Já para outros, a situação seria a inversa.

Acima de tudo, devemos lembra-nos que, se desejamos cativar alguém, precisamos de o compreender enquanto indivíduo e isso, raramente, se conseguirá achando que algo interessa a toda a gente. Até porque, como diz um grande publicitário e amigo, “ninguém é toda a gente”.

João Barros
Professor Convidado na Escola Superior de Comunicação Social e Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.