A microbiota vaginal é essencial para a saúde da mulher, mas ainda há muita falta de conhecimento sobre a melhor forma de a preservar, para prevenir, por exemplo, irritações ou infeções.
Segundo dados do segundo inquérito do Observatório Internacional de Microbiotas, apresentados em comunicado pelo Instituto Biocodex Microbiota, apenas uma mulher em cada cinco afirma saber exatamente o que é a ‘microbiota vaginal’ (22%, +2 pontos em relação a 2023), estando mais familiarizadas com o termo ‘flora vaginal’, já que uma em cada duas mulheres sabe exatamente o que significa.
O que é microbiota vaginal
É uma comunidade dinâmica, sujeita à influência de diferentes fatores. A sua composição muda radicalmente desde a infância até à menopausa. Daí que seja importante usar produtos de higiene íntima adequados, evitar roupa apertada e tecidos sintéticos (optar por algodão), mudar regularmente o penso higiénico ou tampão durante a menstruação ou banir os duches vaginais, porque a microbiota vaginal tem uma função de autolimpeza.
O fator idade
O Observatório Internacional de Microbiotas realizou 7500 inquéritos nos Estados Unidos da América, Brasil, México, Portugal, Espanha, França, Polónia, Finlândia, China, Vietname e Marrocos. Em cada país, a amostra é representativa da população do país com idade superior a 18 anos em termos de sexo, idade, profissão e região. O inquérito foi realizado através da Internet, entre 26 de janeiro e 26 de fevereiro deste ano.
Eis algumas das conclusões:
- Informação e sensibilização feita pelos profissionais de saúde sobre a microbiota vaginal, houve progresso em relação ao primeiro inquérito.
Quase metade das mulheres foi sensibilizada para a importância de preservar o máximo possível a sua microbiota vaginal (+8 pontos face a 2023). Uma percentagem semelhante de mulheres afirma que um profissional de saúde já lhes explicou os comportamentos corretos que devem adotar para preservar o mais possível a microbiota vaginal (48%, +7 pontos em relação a 2023).
- A idade é um fator determinante da microbiota vaginal.
As pessoas com idade igual ou superior a 60 anos estão menos sensibilizadas, ao contrário das pessoas com 25-34 anos e das mães jovens. Também não conhecem o papel e as funções da microbiota vaginal: menos de metade das mulheres com idade igual ou superior a 60 anos (49%) sabem que a vagina faz a sua autolimpeza (em comparação com 56% do conjunto das mulheres) e apenas 39% sabem que a vaginose bacteriana está associada a um desequilíbrio da microbiota vaginal (em comparação com 44% do conjunto das mulheres).
- As mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos e as mães de crianças com menos de 3 anos parecem estar mais informadas e sensibilizadas para a microbiota vaginal.
São também mais aquelas que sabem que a vagina faz a sua autolimpeza: 61% das mulheres entre os 25 e os 34 anos e 60% das mães estão cientes desse facto (em comparação com 56% do conjunto das mulheres). São ainda as que mais adotaram comportamentos benéficos para a microbiota vaginal: 2 em cada 3 usam uma solução de limpeza sem sabão (67% das mulheres entre os 25 e os 34 anos e 71% das mães de crianças com menos de 3 anos, em comparação com 61% do conjunto das mulheres).
Hábitos a evitar
Ainda de acordo com o inquérito internacional, como muitas mulheres não têm um conhecimento aprofundado sobre a microbiota vaginal acabam por adotar comportamentos que podem não ser os mais adequados para uma boa saúde vaginal.
Há cinco hábitos que ainda persistem e que são prejudiciais para a comunidade de microrganismos da zona íntima feminina:
- Automedicação, designadamente com antibióticos. Este tipo de medicamentos mata as bactérias más e as boas, pelo que deve ser tomado de acordo com as indicações do médico. Uma utilização inadequada pode fazer com que os microrganismos oportunistas proliferem e causem infeções secundárias. Neste inquérito, perto de sete em cada dez mulheres sabem que os antibióticos podem alterar a microbiota vaginal (69%). Quase duas em cada três mulheres disseram que evitam a automedicação (63%).
- Tabaco. As mulheres que fumam estão mais sujeitas a sofrer infeções vaginais, além de o tabaco ter impacto também na saúde reprodutiva. Uma em cada duas mulheres mostrou saber que o tabagismo tem impacto na microbiota vaginal (55%).
- Roupa interior de fibra. Trocar diariamente a roupa interior e preferir roupa interior de algodão em vez de tecidos sintéticos ajuda a manter uma boa saúde vaginal, assim como evitar roupas muito apertadas que possam causar fricção. Uma elevada percentagem de mulheres revelou que usa roupa interior de algodão (86%, +2 pontos em relação a 2023).
- Duches vaginais. Exceto se prescritos pelo médico, os duches vaginais não são recomendados. Podem alterar a flora protetora e a mucosa da vagina, o que afeta a microbiota e a sua função protetora contra infeções. Apesar de uma redução em relação ao ano passado, ainda são mais de duas em cada cinco as mulheres que fazem duches vaginais (42%, -3 pontos em relação a 2023).
- Secura vaginal. A hidratação vaginal, em particular, na menopausa, é importante para melhorar a renovação celular, aumentar a proteção contra as agressões e a capacidade de elasticidade e flexibilidade dos tecidos. Na menopausa, os níveis de estrogénio baixam drasticamente. Em consequência, o pH vaginal aumenta e a flora vaginal sofre alterações (menos lactobacilos e maior diversidade bacteriana). Neste inquérito, 69% das mulheres mostraram que sabem que a secura/desidratação vaginal tem consequências para a microbiota vaginal.