27 de Abril de 2015 O Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC TEC) está a desenvolver uma plataforma dedicada a pessoas cegas ou com visão reduzida que tem por objetivo aumentar a sua autonomia, explicou o investigador João Barroso. Ler um artigo de jornal, bem como um menu de restaurante ou identificar um percurso e reconhecer embalagens são algumas das tarefas que o projeto CE4BLIND – context extraction for the blind using computer vision, em português extração de contexto para cegos utilizando visão por computador – poderá permitir que um invisual complete de forma autónoma. A CE4BLIND é uma plataforma digital móvel, ou seja uma aplicação informática que poderá ser usada num computador, telemóvel ou tablet, estando a esta associados componentes – uma bengala eletrónica ou visão por câmara, por exemplo – que têm a missão de reconhecer o espaço. «O objetivo é obter apoio inteligente e combater a infoexclusão digital dos invisuais, fazendo-os sentir-se integrados e produtivos na sociedade digital», explicou à agência “Lusa” o investigador do INESC TEC João Barroso. A frase «aumentar a perceção da realidade a quem não consegue utilizar a visão» acaba por resumir o projeto, somando-se a determinação de conceber a plataforma de forma não invasiva para o utilizador e sem lhe alterar as rotinas. Primeiro componente: a bengala, fruto do projeto Blavigator, também desenvolvido pelo INESC TEC, que comunica por protocolo bluetooth (rede sem fios) com a plataforma que está a correr no dispositivo móvel, dando indicações ao cego através de vibração ou de som. Segundo componente: visão por computador ou visão artificial, ou seja câmaras, cujo estudo parte do projeto SmartVision também deste instituto. Imagine-se um invisual que, ao caminhar ou ao “ler” algo o faz focando uma câmara nesse horizonte, a “visão” será transmitida à CE4BLIND, que a descodifica e emite informação. Uma terceira ideia passa por pedir ajuda remotamente, o que implica que o utilizador tenha, por exemplo, um familiar que está reformado, tendo tempo disponível, ou algum conhecido que conheça determinado espaço. A plataforma envia as imagens para o dispositivo dessa terceira pessoa que remotamente dá informações em tempo real ao cego, ajudando-o nas tarefas. Esta componente ainda está em estudo, revelou João Barroso, acrescentando que poderá ser apropriada a situações «mais criticas». O também docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) admitiu que, ao juntar vários componentes, a ideia é que exista «alguma redundância»: «São vários módulos que podem redundar em objetivos semelhantes, mas isso cria segurança ao utilizador», disse. João Barroso explicou que atualmente existem apenas protótipos e não produtos finais, mas a grande meta é conseguir «disponibilizar um produto» comercialmente ou pelo menos para uso das instituições, aliás a equipa do INESC TEC já recebeu contactos de espaços culturais que gostariam de fazer percursos acessíveis através da CE4BLIND. Este projeto conta com a participação da Universidade do Texas em Austin (UT Austin) e da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO). À instituição americana cabe introduzir a impressão 3D (dados tridimensionais) de alguns objetos específicos para que o cego possa fazer o reconhecimento através do tato, ao passar a mão. Já a ACAPO está a “disponibilizar” associados seus para a realização de testes. |