Interesses e corrupção minam Hospital de Santa Maria 27 de Maio de 2015 O Hospital de Santa Maria, o maior do país, está minado por uma teia de interesses e lealdades a partidos políticos, à maçonaria e organizações católicas, conclui um estudo que avaliou a qualidade e funcionamento de seis instituições nacionais. A análise ao Hospital de Santa Maria (HSM), a cargo de Sónia Pires, salienta que, «apesar das melhorias registadas a partir de 2005», a unidade hospitalar «continua atravessada por fortes conflitos de interesse e atos nas zonas cinzentas ou silenciadas que se configuram como corrupção». «A Maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos ainda são três realidades externas que intersetam a esfera do HSM», refere o estudo “Valores, qualidade institucional e desenvolvimento em Portugal”, encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que vai ser apresentado na quinta-feira. A investigadora, que se baseou em questionários e entrevistas recolhidos entre 2012 e 2013, traça um retrato negro da instituição onde se entrecruzam os interesses públicos e privados de «grupos poderosos», nomeadamente na classe médica e na direção de serviços de apoio que condicionam o funcionamento dos serviços a nível de recursos humanos e aquisição de material clínico. O diagnóstico era ainda pior há dez anos: «a situação estava fora de controlo, não havendo registos de utilização do equipamento e verificando-se roubos regulares, por parte de médicos e de outro pessoal, que se serviam a seu belo prazer dos armazéns do hospital para fornecer as suas clínicas privadas». O fecho do hospital chegou a ser ponderado e foi necessária «a intervenção enérgica» do ministro da Saúde, que nomeou um novo Conselho de Administração e um novo presidente para salvar a instituição, refere o documento, acrescentando que esse dirigente e a sua família receberam ameaças de morte e chegaram a ser acompanhados por uma escolta policial. Sónia Pires destaca que «as condições melhoraram» entretanto, mas continuam a ser «prática comum» pequenos atos de corrupção como, por exemplo, «troca de favores, fazendo passar à frente, nas listas de espera, amigos e familiares, e o médico assistente canalizar os pacientes que têm de fazer análises para laboratórios privados dos quais é sócio». A corrupção foi mais evidente até meados de 2000, e sofreu uma quebra com a reorganização dos serviços. «Com efeito, a introdução da informatização dos serviços, as alterações nas chefias dos serviços de apoio (com a vinda de atores do setor privado bancário ou do setor dos seguros de saúde), a entrega de relatórios de contas por serviço, área ou departamento, ou a externalização de certos serviços (como a alimentação, a lavandaria ou obras de manutenção) fazem com que o despesismo seja mais controlado», adianta o relatório. O documento, citado pela “Lusa” revela igualmente casos de absentismo de chefias médicas nos serviços de ação médica e nomeações dos diretores de serviço feitas «à revelia das normas e regulamentos». Justifica, por outro lado, a permanência de alguns médicos no serviço público com o facto de «pertencer ao HSM ser útil para conseguir o estatuto social e simbólico próprio à profissão», admitindo que, embora se mantenham os melhores elementos, há ausência de meritocracia, nas nomeações e na promoção. «Os processos de nomeação não são claros e estão atravessados por outras dinâmicas como os jogos de interesse e as lutas entre professores na Faculdade de Medicina, e a presença de dinâmicas externas próprias à sociedade portuguesa – como a maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos (ligação mais recente, temporalmente, e com ênfase particular no Partido Comunista e no Partido Socialista)», salienta a investigadora, baseando-se nas informações que recolheu. Santa Maria foi a organização mais mal classificada entre as seis analisadas no estudo (Autoridade Tributária, ASAE, EDP, Bolsa de Lisboa, Hospital de Santa Maria e CTT), destacando-se essencialmente na avaliação sobre inovação e flexibilidade tecnológica. No entanto, a partir de 2011, as restrições orçamentais no Serviço Nacional de Saúde condicionaram a introdução de maior flexibilidade tecnológica e inovação nos serviços, notou Sónia Pires. O estudo envolveu vários investigadores e foi coordenado pela professora da Universidade Nova de Lisboa Margarida Marques e pelo professor da Universidade de Princeton Alejandro Portes. |