Interior tem que disputar médicos com Litoral e também com França 17 de novembro de 2014 O interior do país, que há anos luta por atrair médicos, tem que disputar os clínicos com o litoral português mas agora também com outros países, como a França, de onde chegam propostas com salários superiores. O Orçamento do Estado (OE) para 2015 introduz o pagamento de incentivos para atrair médicos para zonas mais desfalcadas do país. Os prémios, que serão pagos de forma pecuniária e somada ao salário, deverão avançar nos próximos concursos de recém-especialistas, mas deverão abranger também médicos com mais anos de profissão. No entanto, de países europeus, como França, onde desde 2006 se verifica uma enorme carência de médicos, têm surgido várias propostas de trabalho para os clínicos portugueses. Uma das empresas que está atualmente a recrutar é a francesa Medicis Consult, que propõe salários que, mediante os anos de experiência, podem chegar aos 6.200 euros líquidos mensais. Madalina Codica, sócia-gerente da Medicis Consult, disse hoje à agência “Lusa” que esta empresa se baseia na tabela nacional de salários, mas acrescentou que são oferecidos incentivos como seguros de saúde privados para os médicos e família, formações gratuitas, sistema de “tutorado” com um colega do serviço durante as primeiras semanas e apoio na procura de casa e de escola para os filhos. Em Portugal, esta empresa procura sobretudo médicos especialistas em Medicina do Trabalho, Anestesiologia, Gastroenterologia, Cardiologia, Urologia e Ginecologia-Obstetrícia para trabalharem em clínicas e hospitais do setor público e privado. Segundo a responsável, a França procura também especialistas em medicina geral, especialmente para trabalharem nos meios rurais. Se estas solicitações de trabalho vindas do exterior são incentivadoras para os estudantes de medicina, elas são encaradas com alguma preocupação pelas unidades de saúde e autarcas que já anos reivindicam mais médicos no interior do país. O presidente da Câmara de Mondim de Basto, Humberto Cerqueira, encetou uma luta pela colocação de mais médicos no centro de saúde local, um problema que está sanado, no entanto, agora alerta para a falta de acesso da população às especialidades. Para ajudar a colmatar esse problema, o município disponibiliza transportes para os pacientes, nomeadamente os oncológicos, que se deslocam ao Porto, e também aos que necessitam de consultas oftalmológicas e têm que viajar até Lamego. «Se tiverem de ir de táxi de Mondim a Lamego pagam 70 euros, uma quantia insustentável para quem ganha pensões muito pequenas», frisou. Um gestor público referiu que «este rebuçado» que o Governo vai dar agora aos médicos só funcionará se for complementado com outras medidas, como por exemplo, a obrigação de ficaram cinco anos no interior ou com a não abertura de mais vagas em hospitais do litoral, que já possuem meios humanos necessários para resolver os seus problemas. Francisco Silva, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina do Porto, encara as medidas previstas no OE como um incentivo, no entanto considera que é preciso implementar no país políticas de fundo e não apenas medidas avulsas. Quanto às propostas que chegam do exterior, Francisco Silva considerou serem «sem dúvida apetecíveis», destacando, para além dos salários, também a maior facilidade no acesso às especialidades e de progressão na carreira. Questionado sobre qual a sua opção futura, o estudante referiu que é dos «está na dúvida». «Por um lado quero lutar por isto, mas quero lutar nas condições certas», frisou. Fátima Garcia, recrutadora da Medicis Consult em Portugal, disse estar surpreendida com o interesse demonstrado pelos portugueses que, até há alguns anos, não se mostravam interessados em trabalhar no estrangeiro. «Estamos confiantes que o maior volume de candidaturas de médicos portugueses vai chegar a partir de 2015», concluiu. |