Investigação liderada por português avança no estudo de vacina contra a sida 17 de Dezembro de 2015 Uma equipa de investigadores liderada pelo português Fernando Garcês Ferreira conseguiu dar mais um passo para uma possível vacina contra o vírus da sida, ao determinar como anticorpos muito potentes evoluem em contacto com o VIH. Em 2014, o grupo de cientistas, do Scripps Research Institute, nos Estados Unidos, descobriu que uma família de anticorpos muito potentes que se desenvolveu numa pessoa infetada com o VIH – a PGT121 – neutralizava não apenas o vírus que infetava essa pessoa, mas também 80% de todas as variantes do vírus que existem nos humanos no mundo. «Uma família de anticorpos que se poderia adaptar rapidamente às constantes modificações do vírus, o que nos dá esperança de que o sistema imunitário humano é capaz de controlar [a infeção]», assinalou à “Lusa” o investigador Fernando Garcês Ferreira, coordenador do estudo. Feita a descoberta, a equipa lançou-se a um novo desafio: saber como esses anticorpos, produzidos nas células B (células do sistema imunitário), evoluíam no organismo em contacto com o vírus, que «está em constante mutação para escapar à ação do sistema imunitário». Depois, «reproduzir essa evolução numa vacina», explicou Fernando Garcês Ferreira. Segundo o investigador, «a evolução dos anticorpos PGT121, que é provável ter demorado 2-3 anos [numa pessoa infetada com o VIH], está intimamente ligada à própria evolução do vírus, neste caso para escapar à ação dos anticorpos PGT121». Recorrendo a técnicas da biologia estrutural, a equipa obteve imagens moleculares tridimensionais, de resolução atómica, da evolução dos anticorpos (que são proteínas, moléculas) em contacto com o VIH, para «chegarem a uma forma eficiente» de neutralizar o vírus. Para Fernando Garcês Ferreira, é possível, pois, «fazer uma vacina que dirija os anticorpos PGT121 a evoluírem desta maneira». O investigador vai mais longe: «Vamos entender de tal maneira como o sistema imunitário funciona que vamos ser capazes de desenvolver vacinas seja para o que for». Um protótipo da vacina, que já está a ser testado em ratinhos, foi “desenhado” pelo mesmo grupo de cientistas, que se socorreu de tecnologias de biologia molecular. Com este método, “desenharam” a expressão de proteínas da superfície do vírus, que, explicou Fernando Garcês Ferreira, são as únicas reconhecidas pelo sistema imunitário humano como invasoras, e, por isso, são o alvo de ação dos anticorpos PGT121. De acordo com o investigador, são essas proteínas do vírus, “proteínas do envelope do VIH”, que vão ser a vacina. As proteínas virais terão de ter «ligeiras modificações» para «estimularem o sistema imunitário a produzir os anticorpos» no ponto desejável para “matar” o VIH, adiantou. Os resultados da mais recente investigação da equipa de Fernando Garcês Ferreira foram publicados esta semana na revista “Immunity”. |