Investigação pioneira sobre demência frontotemporal desenvolvida em Coimbra 17-Mar-2014 Investigadores da Universidade de Coimbra (UC) estão a desenvolver um estudo pioneiro sobre os mecanismos da demência frontotemporal – «a segunda mais comum das demências» –, anunciou hoje aquela instituição. «Pela primeira vez, em Portugal», uma equipa de 14 investigadores da UC, através do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Medicina, está a «estudar os mecanismos envolvidos» na demência frontotemporal, afirma a universidade, numa nota hoje distribuída. A degenerescência lobar frontotemporal, também conhecida por demência frontotemporal, é uma «patologia com grandes implicações no comportamento» – que «afeta sobretudo o “centro de decisão” do cérebro (os lobos frontotemporal)» – e, apesar de ser a segunda demência mais comum, a seguir à doença de Alzheimer, «é ainda praticamente desconhecida». Os primeiros resultados do estudo, que envolve 70 doentes seguidos na consulta de demências, coordenada pela neurologista Isabel Santana, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, revelaram «profundas alterações ao nível do complexo 1 da cadeia respiratória mitocondrial», em comparação com «um grupo controlo constituído por voluntários saudáveis». Em 69 dos 70 doentes acompanhados foram verificadas «deficiências genéticas e bioenergéticas», enquanto em 40 doentes foi observada uma «diminuição nos níveis de ATP circulantes», que se «correlaciona com o decréscimo da atividade do complexo 1» da cadeia respiratória, refere Manuela Grazina, coordenadora do estudo e responsável pelo Laboratório de Bioquímica Genética da UC. De forma simples, pode dizer-se que os investigadores «identificaram a “falha de energia” que pode ajudar a esclarecer os mecanismos envolvidos na doença, ou seja, permite perceber onde é que o código está errado para, a partir daí, desenvolver formas de compensar ou reparar esse erro». A investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pretende «ajudar no desenvolvimento de escalas neuropsicológicas de diagnóstico e análise de biomarcadores bigenómicos e bioquímicos, que permitam a deteção precoce da doença, e contribuir para novas abordagens terapêuticas que previnam e/ou travem a progressão» da demência frontotemporal, uma doença complexa e sobre a qual se desconhecem «os mecanismos exatos subjacentes à sua etiologia», sublinha a investigadora, citada pela “Lusa”. Apesar de não haver estudos sobre a incidência da patologia em Portugal, estima-se que a demência frontotemporal representa 7% do conjunto das demências degenerativas na população com idades compreendidas entre os 45 anos e os 64 anos. Este primeiro grande estudo de avaliação da interação bigenómica (genomas mitocondrial e nuclear) na demência frontotemporal conta com a colaboração do Baylor College of Medicine (EUA) e do Institute of Ageing and Health (Inglaterra). |