Investigação revela que é possível reverter sintomas de autismo na fase adulta 18 de Fevereiro de 2016 Um estudo ontem publicado na revista “Nature” revela que é possível reverter alguns comportamentos ligados ao autismo na fase adulta. Desenvolvida por uma equipa de cientistas norte-americanos e pela portuguesa Patrícia Monteiro, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC), a investigação incidiu sobre o “Shank3”, um dos genes implicados no autismo, afirma a UC, numa nota hoje divulgada. O autismo é uma patologia sem cura que afeta cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, estimando-se que a prevalência em Portugal seja de um caso em cada milhar de crianças em idade escolar. A origem do autismo é «bastante variável», mas o “Shank3” está «associado a uma forma monogénica da patologia» e, quando surge uma mutação, «a proteína resultante deste gene – que funciona como um ‘andaime’ que dá acesso à comunicação entre neurónios – deixa de suportar a estrutura, causando danos no circuito neuronal», explica a UC. Para compreender o autismo, doença neuropsiquiátrica que compromete o normal desenvolvimento da criança e que permanece durante toda a vida, os especialistas desenvolveram, durante quatro anos, experiências em ratinhos adultos. Os animais foram sujeitos a mutação do gene, tendo as experiências revelado, «pela primeira vez», que é «possível reverter dois dos principais sintomas do autismo: ausência de interação social e comportamentos repetitivos». Ou seja, os investigadores conseguiram consertar o “andaime” e restabelecer a comunicação na estrutura «durante a fase de vida adulta desses ratinhos, demonstrando que é possível reverter as alterações bioquímicas, problemas de comunicação neuronal e mesmo melhorar as interações sociais e comportamentos repetitivos», explicita Patrícia Monteiro, citada pela UC. A especialista portuguesa participou no estudo ao abrigo do Programa Doutoral em Biologia Experimental e Biomedicina do CNC em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), que lidera esta investigação. A descoberta «abre portas para a criação dos primeiros medicamentos eficazes no tratamento da doença», sustenta Patrícia Monteiro, adiantando que «estes resultados indicam que, embora o autismo seja uma perturbação do desenvolvimento, é possível intervir na sua fase adulta». As experiências em ratinhos não têm aplicação direta nos humanos, mas Patrícia Monteiro sublinha que o estudo «ajuda a compreender o conjunto de alterações biológicas presentes no autismo e abre portas para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, como por exemplo estratégias direcionadas para a melhoria de certas alterações comportamentais passíveis de serem revertidas em fase adulta e não para o quadro de alterações comportamentais do autismo como um todo». A participação portuguesa na investigação foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), enquanto pela parte dos EUA o estudo foi apoiado por cinco entidades. |