Investigação sobre alterações genéticas deve prosseguir, mas com regras 323

Investigação sobre alterações genéticas deve prosseguir, mas com regras

04 de Dezembro de 2015

Os organizadores de uma conferência internacional sobre modificações do genoma humano concluíram que a pesquisa fundamental e pré-clínica deverá prosseguir ativamente, tendo em conta o seu potencial médico, mas com supervisão legal e ética.

Caso as células embrionárias ou reprodutoras humanas tenham o seu ADN modificado, «elas não podem, em nenhuma situação, ser utilizadas por uma grávida», tal como já o proíbem vários países, declara-se num comunicado publicado ontem pela Academia Americana das Ciências e citado pela agência noticiosa “AFP”.

A Academia é a organizadora, em conjunto com as suas homólogas britânica e chinesa, da conferência internacional que decorreu esta semana em Washington, nos Estados Unidos, e na qual participaram centenas de cientistas de vinte países.

«Seria irresponsável neste momento proceder a qualquer utilização clínica dessa tecnologia de edição de células reprodutivas humanas, sobretudo porque os problemas de segurança e eficácia não foram resolvidos com uma adequada dos riscos, dos potenciais benefícios e das alternativas», escreveram os cientistas, entre os quais David Baltimore, laureado com o Nobel da Medicina, e que presidiu à conferência internacional.

Os cientistas sublinham a dificuldade de prever os efeitos nefastos de uma modificação do ADN das células embrionárias, sublinhando o facto de que essas alterações permanentes seriam transmitidas às futuras gerações, alterando a evolução humana.

A técnica, capaz de corrigir genes defeituosos responsáveis por doenças hereditárias, e que pode também, potencialmente, melhorar as capacidades físicas e mentais, abrem a porta a «populações superiores» e podem exacerbar as desigualdades sociais, alertam os especialistas.

Contudo, os investigadores estimam que a utilização da técnica deve ser reavaliada regularmente.

Para os cientistas, a comunidade internacional deveria acordar o estabelecimento e a harmonização de regras de aplicação da técnica, de forma a desencorajar os usos inaceitáveis em nome do progresso na área da saúde.

As preocupações éticas em torno da nova técnica, muito eficaz e pouco dispendiosa, desenvolvida em 2012 e denominada CRISPR-Cas9, agudizaram-se depois do anúncio em abril por uma equipa de investigadores chineses tinha conseguido alterar um gene defeituoso num embrião humano inviável.

Sobre a modificação genética de células somáticas, que não são transmissíveis, esta técnica tem numerosas aplicações clínicas promissoras, como, por exemplo, melhorar a capacidade do sistema imunitários combater células cancerígenas ou certas doenças incuráveis.

A Academia Americana das Ciências publicará um relatório sobre o tema dentro de um ano.