Investigadoras do Porto criam dispositivo que deteta cancro através de gota de sangue 29 de Abril de 2016 Investigadoras do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) estão a desenvolver dois dispositivos «autónomos e baratos» que vão permitir a deteção precoce do cancro, através de uma amostra composta por uma gota de sangue. De acordo com Goreti Sales e Lúcia Brandão, responsáveis pelos projetos, o objetivo é criar dispositivos de fácil manuseamento, semelhantes aos utilizados para a leitura da glucose em pessoas com diabetes, mas que necessitam apenas da tira de glucose e não precisam da caixa de medida elétrica. O projeto 3 P’s (plastic antibodies, photovoltaics, plasmonics), liderado pela investigadora Goreti Sales, do laboratório BioMark, pertencente ao ISEP, engloba três áreas do conhecimento que «nunca se encontraram antes». Nesta investigação, pretende-se juntar anticorpos plásticos a células fotovoltaicas (dispositivo elétrico em estado sólido, capaz de interagir com biomarcadores do cancro e de converter a luz em energia elétrica de forma interdependente) e, de seguida, a estruturas plasmónicas (que aumentam a eficiência da célula fotovoltaica). «A leitura da amostra de sangue vai dar origem a uma cor, que vai permitir ao médico verificar se o paciente tem um biomarcador (biomolécula que circula no nosso organismo) alterado e indicar a necessidade de realizar análises aprofundadas e específicas», explicou à “Lusa” a investigadora. Este processo é «uma despistagem local muito mais intensa do que a que se faz atualmente, com uma taxa de erro muito inferior», acrescentou. «Com o desenvolvimento deste novo conceito de biossensor, vamos poder fazer testes em várias linhas de cancro, utilizando diferentes biomarcadores, podendo ainda estender-se a sua aplicação a outras doenças». Neste momento, a equipa de investigação já conseguiu associar os anticorpos plásticos às células fotovoltaicas, segundo indicou a investigadora, e estão a trabalhar num composto que seja capaz de mudar de cor de uma forma evidente, com o auxílio de materiais orgânicos. O que se espera é que seja um produto, de utilização única, «barato e produzido a grande escala». Por seu lado, o projeto Symbiotic, liderado pela também investigadora do BioMark Lúcia Brandão, associa os anticorpos plásticos a um dispositivo autónomo que produz energia, mas não usa a célula fotovoltaica. Neste caso, é utilizada uma célula de combustível – uma pilha – «que vai detetar a presença do biomarcador», esclareceu a coordenadora. «Se o sinal elétrico dessa célula combustível variar, vai dar indicação a um outro dispositivo agrupado, que muda de cor, indicando ao médico se o paciente tem indícios de cancro». No projeto 3P’s participam as investigadoras Alexandra Santos, Ana Moreira, Ana Margarida Piloto, Carolina Hora, Felismina Moreira e Manuela Frasco, bem como a responsável pelo Symbiotic, Lúcia Brandão. Esta investigação teve início em fevereiro de 2013 e foi financiada através de uma “Starting Grant” da Europeran Research Council (ERC) em um milhão de euros. O projeto finaliza em janeiro de 2018, contando com a colaboração do IPO-Porto para o teste do dispositivo em amostras de sangue, urina e saliva. O Symbiotic é desenvolvido por um consórcio, composto pelo ISEP, pelo Imperial College, de Londres, pelo UNINOVA, da Universidade Nova de Lisboa, pela organização finlandesa de investigação VTT e pela Universidade Aarhus, da Dinamarca. Neste projeto participam pelo ISEP as investigadoras Liliana Carneiro, Maria Helena Sá, e Nádia Ferreira. Iniciado em junho de 2015, teve um financiamento de cerca de 3,4 milhões pelo Horizonte 2020 e tem a duração de três anos. |