Investigadoras do Porto distinguidas estudam recuperação de lesões medulares 19 de Fevereiro de 2016 Investigadoras do Porto, que venceram o prémio da Santa Casa da Misericórdia, vão utilizar o valor recebido, na investigação sobre a recuperação de lesões medulares para melhorar o prognóstico neurológico dos pacientes, que lhes permitiu conquistar a distinção. Em depoimentos à “Lusa”, a investigadora Ana Paula Pêgo, do Instituto Nacional de Engenharia Biomédica da Universidade do Porto (INEB), indica que o que o grupo de investigação propõe é «uma nova estratégia terapêutica que combina duas terapias regenerativas axonais complementares com um programa de reabilitação». O projeto, desenvolvido por profissionais do Instituto de Investigação e Inovação da Universidade do Porto (i3S) e do Centro de Reabilitação do Norte (CRN), engloba três áreas de estudo distintas – a biologia básica da recuperação das células nervosas, os biomateriais que servirão de suporte à regeneração (com agentes terapêuticos) e técnicas terapêuticas de reabilitação (fisioterapia). Segundo Ana Pêgo, responsável pela equipa que vai desenvolver os biomaterias utilizados na investigação e que também faz parte do i3S, «apesar dos enormes avanços que se têm feito isoladamente nas três áreas que estão na base do projeto, não existem muitas abordagens que integrem as três frentes em simultâneo, sendo este o ponto forte» desta proposta. Como explica Mónica Sousa, outra das coordenadoras e investigadora do i3S e do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC), «quando há uma lesão na medula, os axónios (parte do neurónio responsável pela condução dos impulsos elétricos – informação – que partem do corpo celular até outro local mais distante, como um músculo ou outro neurónio) são interrompidos e o caminho de transmissão da informação também». Para reverter esse processo, os investigadores do INEB vão desenvolver materiais que podem restabelecer esse caminho e guiar novamente o axónio de volta ao seu alvo, para além de manipularem a entrega local do medicamento selecionado para tratamento, aplicado através de um hidrogel, outro dos objetivos da investigação. O que se pretende é encontrar «uma droga ou drogas que já passaram uma série de critérios de validação para utilização em outros fins e verificar a sua capacidade de favorecer o crescimento e a regeneração axonal in vivo», acrescenta Mónica Sousa. A equipa da fisiatra Maria Cunha, do Centro de Reabilitação do Norte (CRN), vai ajudar a desenhar protocolos de fisioterapia adaptados que possam ser aplicados em ratos, semelhantes àqueles que se aplicam a doentes com lesões medulares, de forma a compreender se, para além drogas, esses protocolos podem ter um impacto positivo na regeneração dos axónios. Segundo as investigadoras, estima-se que há uma incidência de 30 casos de lesão na espinal medula por ano em cada um milhão de habitantes e as sequelas tendem a prevalecer em cerca de 500 dos afetados, devido à inexistência de tratamentos efetivos que permitam recuperar de forma eficaz. Na investigação, cuja estimativa de duração é de três anos, participam ainda os investigadores Isabel Amaral, Pedro Moreno e Paulo Aguiar, do INEB e do i3S, Fernando Mar e Joana Nogueira, do IBMC e do i3S, e Ana Rita Pinto e Ana Gomes, do CRN. Com montante de 50.000 euros recebido pela distinção o grupo de investigação pretende comprar os reagentes necessários para os trabalhos in vitro e in vivo. |